Com forte influência africana, algumas pitadas indígenas e portuguesas, a culinária baiana é uma das mais famosas do Brasil
“Você já foi à Bahia, nega? Não? Então vá! Lá tem vatapá, então vá! Lá tem caruru, então vá! Lá tem munguzá”. Esses versos da música “Você já foi a Bahia?”, eternizados na voz de Dorival Caymmi, listam alguns pratos saborosos da rica gastronomia baiana, famosa no Brasil e no mundo por seus temperos, histórias e tradições.
Assim como as praias e os ritmos musicais, é impossível pensar na capital Salvador sem a cozinha baiana, um verdadeiro patrimônio cultural. Tem acarajé, bobó de camarão, moquecas, vatapá, caldo de sururu… as opções são muitas!
Esse paraíso culinário está repleto de opções, com o protagonismo do peixe, da pimenta e o azeite de dendê.
Raiz histórica
Os indígenas, portugueses e africanos desempenharam papéis cruciais na história gastronômica da Bahia. Um exemplo é o azeite de dendê, que teve sua origem em uma palmeira da África Ocidental. Durante o período colonial, os portugueses trouxeram essa planta ao Brasil e utilizaram os escravos para o cultivo e a produção do óleo.
Como resultado, surgiu esse ingrediente, que é considerado afro-brasileiro e, atualmente, tornou-se um componente essencial da culinária baiana.
Pratos tradicionais
Acarajé: se tem uma comida que é a cara da Bahia, essa comida é o acarajé. Essa deliciosa iguaria é feita a partir de um bolinho com massa de feijão- fradinho, cebola frita dourada, o lendário azeite de dendê e, é claro, a característica pimenta-baiana que dá o toque especial.
Depois de frito, geralmente, é recheado com itens como: camarão, vatapá, caruru, salada de tomate e muita pimenta. O prato pode ser encontrado por todo o estado, mas sua presença é particularmente marcante nas áreas litorâneas, onde a passagem de turistas é intensa.
No ano de 2000, o acarajé foi instituído como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, se tornando um dos maiores tesouros gastronômicos nacionais.
Vatapá: típico do Nordeste e também nas regiões nortistas, o vatapá tem forte presença nos cardápios baianos, seja servido como acompanhamento de outras comidas, como recheio do acarajé ou, simplesmente, como prato principal.
Essa iguaria combina pão francês, leite de coco, amendoim, castanha-de-caju, farinha de mandioca, camarão, azeite de dendê e gengibre, resultando em um ensopado irresistivelmente saboroso.
Moqueca: arrojada, saborosa e exótica, assim é conhecida a Moqueca Baiana, um ensopado de peixe que, muitas vezes, é cozido em uma panela de barro, contribuindo para o seu caldo aromático característico.
A receita original inclui leite de coco, de preferência natural, azeite de dendê, camarões secos e, em alguns casos, a pimenta, que se destaca na composição do prato. Há também as versões feitas com frango, carne bovina ou vegetariana e vegana.
Bobó de camarão: esse é um prato cremoso, o qual, na sua receita original, era preparado com uma raiz local abundante, o inhame. Ao longo dos anos, a receita evoluiu, e hoje em dia, o camarão é a implementação mais famosa desse prato, mas a criatividade culinária não para por aí. Em algumas versões, o frango entra em cena, adicionando um toque especial.
A clássica receita leva mandioca (aipim), leite de coco, leite normal, queijo parmesão, cebola, alho e molho de tomate. Além disso, em alguns lugares do país, é comum usar o azeite de oliva como substituto do azeite de dendê.
Caldo de Sururu: quando as temperaturas caem não há nada melhor do que um prato que aqueça o corpo e a alma. Nesses dias, o Caldo de Sururu, carinhosamente conhecido como “caldinho de sururu”, da culinária nordestina, surge como uma excelente opção.
O sururu, fruto do mar semelhante à ostra, é o protagonista dessa receita, que leva, além dele, ingredientes como: leite de coco, azeite de dendê, pimenta, farinha de mandioca e temperos: alho, cebola e coentro.
Roteiro gastronômico
Visitar a Bahia sem experimentar um dos pratos mais icônicos e tradicionais da região, o acarajé, seria uma experiência incompleta. O Acarajé da Dinha, uma barraquinha que fica localizada no Largo de Santana, no bairro boêmio do Rio Vermelho, é uma parada obrigatória em Salvador.
Lindinalva de Assis, mais conhecida como Dinha do Acarajé, é considerada uma das pioneiras na receita dos acarajés baianos. Ela foi uma quituteira de grande importância em Salvador, falecida em 2008. Hoje, seus filhos mantêm viva a tradição, preservando o nome da mãe e expandindo o negócio com novas filiais na capital.
Segundo Elaine de Assis, filha da Dinha, que hoje administra os negócios, a receita não tem segredo, mas eles mantêm a essência e os ingredientes tradicionais que surgiram de sua bisavó. “Nosso acarajé é o tradicional das receitas da minha bisavó desde 1994, que leva o feijão-fradinho, cebola, sal e por fim o azeite de dendê”, explica.
Outra parada obrigatória é o Restaurante Preta, que fica na belíssima Ilha dos Frades. Com um ambiente rústico decorado de antiguidades e artesanato, sua principal iguaria é a moqueca de camarão com polvo, feita pela chef Angeluci Figueiredo, mais conhecida como Preta.
O restaurante se destaca pelo frescor dos frutos do mar, que são protagonistas do menu. Para chegar até o local, é necessário uma travessia de barco, saindo de Salvador, que dura em torno de 40 minutos.
A Casa de Tereza é outro ponto tradicional da capital soteropolitana. Localizada também no bairro de Rio Vermelho, o restaurante comandado pela chef Tereza Paim, tem um cardápio recheado de diferentes moquecas de peixe, camarão, lagosta, polvo e vegetariana, além de pescados e bobó de camarão.
Ao entrar no local, é possível observar um ambiente acolhedor, rústico e colorido, típico de uma decoração baiana.
Onde comer
Acarajé da Dinha, em Salvador (BA)
Casa de Tereza, em Salvador (BA)
Restaurante Preta, em Salvador (BA)