Unir itens que proporcionam sensações e memórias de carinho aos ambientes de sua casa é um conceito querido no design e arquitetura nos dias de hoje, conhecido como decoração afetiva
Sabe aquela máquina de costura da casa da avó na infância, que depois passou a ocupar um espaço na casa da mãe, e bem mais que uma peça em um canto, desperta uma série de memórias e boas sensações? E aquela máquina de escrever, que os amantes de escrita herdam de algum parente, e mantém em seu cantinho como uma expressão de sua paixão?
Toda essa dinâmica de envolver peças antigas e com valor sentimental nas decorações de uma casa, é algo que acontecia naturalmente e hoje em dia tem sido feito em residências de forma deliberada, sendo conhecida como “Decoração Afetiva”.
“Ao invés de seguir apenas tendências estéticas, a decoração afetiva busca criar ambientes acolhedores e inspiradores, conectando as pessoas às suas memórias e experiências”, definem as arquitetas Ieda e Carina Korman, da Korman Arquitetos, “Isso é alcançado incorporando itens como lembranças, fotografias e presentes especiais, tornando o espaço mais profundo e emocionalmente envolvente”, finalizam.
Sensações despertadas
Como conceito de design e arquitetura, a decoração afetiva é relativamente nova e está em evidência no momento. Nela, peças que despertam emoções especiais para os moradores são inseridas nos ambientes, não existindo regras específicas em relação ao design quando se cria esse tipo de projeto.
“Requer uma abordagem sensível e empática. Pode envolver a reutilização de objetos de valor emocional, a escolha de cores que despertam sensações específicas ou a incorporação de elementos que remetem a lugares ou momentos significativos”, dizem os arquitetos Priscila e Bernardo Tressino, do escritório PB Arquitetura.
Ieda e Carina Korman comentam sobre como as peças herdadas em uma família geram diferentes sensações em um indivíduo, “Atualmente, como tendência, provoca um paradoxo necessário para eliminar a monotonia dos ambientes, mas também há muito o que falar sobre a ressignificação das peças dentro do décor afetivo”, completam.
O momento frágil e de isolamento da pandemia de Covid-19 intensificou o gosto por esse tipo de decoração. Longe dos entes queridos e passando muito tempo em casa, as pessoas buscavam cada vez mais formas de se conectar com coisas familiares e afetivas.
Projetos de decoração afetiva
Dentro da decoração, nesses casos, podem ser usadas peças antigas passadas de geração em geração, ou que lembrem alguma memória vivida pelos moradores. Por mais que sejam itens que sejam parte da vida das pessoas, ainda assim a criação do projeto envolve muito mais do que simplesmente incluí-los.
“É sempre bom ter peças afetivas, mas é indispensável buscar um equilíbrio junto ao estilo estético predominante nos ambientes. Não queremos criar espaços obsoletos e sim criar uma sensação acolhedora de sermos abraçados pelas lembranças”, explicam Ieda e Carina Korman.
Ao iniciar um projeto de decoração afetiva, é fundamental considerar os seguintes pontos levantados pelos arquitetos Felipe e Eloy Fichberg, da Tress Arquitetura:
1. Considerar suas próprias memórias, sentimentos e experiências, identificando objetos, cores e elementos de significado pessoal profundo;
2. Escolher com discernimento apenas aquilo que verdadeiramente representa algo muito significativo para si, filtrando elementos que têm um impacto emocional genuíno;
3. Selecionar cuidadosamente um profissional que possua a habilidade de ouvir sua história de vida pessoal e traduzi-la de forma habilidosa em peças, objetos, cores e formas de móveis e ambientes.
É importante que clientes e profissionais tenham uma comunicação clara, para que os elementos afetivos, que devam ser incorporados no design, passem claramente a mensagem desejada, para que aquele ambiente retrate a história de vida daquelas pessoas.
Felipe e Eloy Fichberg falam sobre o papel dos profissionais em projetos tão emocionais: “Cada escolha é cuidadosamente considerada para evocar sentimentos específicos e criar uma experiência sensorial envolvente. Os arquitetos se tornam intérpretes das emoções humanas”, dizem.
Pode ser usado na decoração afetiva
Quando se fala em decoração afetiva, existem vários itens que podem ser usados na composição do ambiente de uma casa: fotografias de família, memórias de viagem, móveis herdados, obras de arte, peças artesanais, por exemplo:
- Máquina de escrever;
- Máquina de costura antiga;
- Aparelho telefônico antigo;
- Peças adquiridas em viagens;
- Piano vintage.
Objetos que carregam sentimentos de uma forma geral, além disso, cores que despertam emoções específicas e a incorporação de elementos que remetem a lugares ou momentos especiais, são citados por Priscila e Bernardo Tressino na decoração afetiva.“Cada escolha é cuidadosamente considerada para evocar sentimentos específicos e criar uma experiência sensorial envolvente.” Felipe e Eloy Fichberg
Chegar em casa, ao final do dia, pode ser acolhedor e te trazer uma sensação quente e de afeto. Aquele lugar pode ser bem mais que um imóvel, uma verdadeira caixa de recordações e emoções, com uma série de peças que transportam o morador para uma lembrança, um momento, ou até mesmo uma pessoa.