Não há como negar que Ayrton Senna foi um dos maiores ídolos do esporte brasileiro e segue vivo na memória dos fãs. No dia 1º de maio de 2024, fará 30 anos do trágico acidente que tirou a vida do piloto durante o GP de San Marino, na Itália. Para exaltar o legado de Senna, a Netflix vai lançar neste ano uma série sobre o tricampeão da Fórmula 1 e o ator Gabriel Leone foi escolhido para ser o protagonista.
Leone já teve experiência em outro papel envolvendo a Fórmula 1, interpretando o piloto Alfonso de Portago no filme “Ferrari”. Além disso, ele é o protagonista da série “Dom” no Prime Video, que terá a sua terceira e última temporada lançada neste mês de maio.
Em conversa com a revista de bordo da Voepass, Gabriel Leone falou sobre os seus objetivos na carreira, a escolha para viver Ayrton Senna e sua experiência no filme “Ferrari”.
Quando você decidiu começar a atuar? O que te influenciou?
Gabriel Leone: Comecei por volta dos 15 anos de forma acidental. Eu nunca tive nenhuma influência artística ou desejo pelo teatro. Eu tinha um professor de história que tinha sido ator e ele propôs para a turma um trabalho valendo nota pra falar sobre décadas da história do Brasil através de uma peça. A minha turma ficou com a década de 80 e nós decidimos contar a história do Cazuza. Eu já tinha uma relação de fã com a música e acabei interpretando o Cazuza. Foi uma coisa amadora, mas eu me senti muito confortável no palco, me deu sensações muito boas. Depois disso, tinha um diretor de teatro lá na escola que tinha uma companhia profissional de teatro e ele ouviu falar de mim. Ele me convidou para ver se eu tinha interesse em acompanhar algumas aulas e aí comecei a participar. Quando vi estava estreando minha primeira peça profissional.
Como foi a sua sensação ao ser chamado para interpretar o Ayrton Senna e qual o peso de viver um ídolo nacional?
Gabriel: Fiquei muito feliz. Eu sabia desde o início que seria o maior desafio da minha carreira até então, pelo tamanho do projeto. Foram 8 meses filmando, fora do Brasil e até pela dimensão do projeto e o que ele significa para a Netflix. É um personagem que as pessoas ainda têm muito viva a memória dos feitos, da aparência, da importância como ídolo. Quando ele faleceu em 94 eu não tinha nem um ano, mas eu cresci escutando sobre o Senna e quando comecei a estudar sobre ele, tive ainda mais noção sobre a dimensão e o tamanho que ele tem para o brasileiro. Isso é o que mais me dá prazer na minha profissão e eu fiquei muito satisfeito com o que fizemos e de realizar uma homenagem à altura dele.
Você também tem uma experiência em outra produção relacionada à Fórmula 1. Como foi participar do filme “Ferrari”?
Gabriel: Filmei “Ferrari” mais ou menos um ano antes de fazer o Senna. Foi a minha primeira experiência internacional, atuando e sendo dirigido em inglês, em uma produção americana, mesmo que a gente tenha filmado tudo na Itália. Foi um processo maravilhoso pra mim, primeiro por ter sido dirigido pelo Michael Mann que é uma lenda viva do cinema, além de estar com atores que são uma referência pra mim como o Adam Driver e a Penélope Cruz. Foi um projeto dos sonhos e eu tenho um baita de um orgulho do filme.
Ao longo da carreira, você interpretou muitas pessoas reais como o próprio Ayrton Senna, Pedro Dom e Alfonso de Portago. Você considera mais fácil ou mais difícil interpretar esse tipo de personagem?
Gabriel: É um desafio diferente de um personagem totalmente fictício. Uma parte do desafio de compor um personagem são as complexidades que ele tem, independentemente se ele existiu ou não. Quando você conta uma história real, você tem uma responsabilidade com a história daquela pessoa. Cada projeto que vivi foi muito específico. No “Ferrari”, eu faço o De Portago nos anos 50, ou seja, tinha pouco registro sobre ele. No caso do “Dom” é um assunto delicado, então não tivemos a presença da família, diferentemente do caso do Senna. Cada projeto tem a sua especificidade.
Como ficou a sua relação com a Fórmula 1 depois que você passou por essas produções? É algo que você gosta de acompanhar?
Gabriel: Cresci em um Brasil órfão do Senna e meio de luto em relação à Fórmula 1. Sempre fui muito fã de esportes no geral, assisti à Fórmula 1 quando era criança, mas já não tinha mais aquela cultura da época do Senna de acordar cedo para ver as corridas. Então, não tive uma relação muito forte com a Fórmula 1. Isso acendeu em mim quando fui estudar para o “Ferrari”, depois quando estudei a geração do Senna, então eu tenho um vínculo com o esporte, mas recentemente não tenho estado tão conectado, mas sem dúvida é um esporte que entrou pra minha vida.
Você sente que o mercado internacional está hoje mais aberto para atores brasileiros?
Gabriel: As barreiras ainda existem, até porque há pouco tempo as nossas produções não tinham alcance em âmbito mundial. Isso só acontecia quando o filme era selecionado para um festival importante. Tivemos atores como Rodrigo Santoro e Wagner Moura que desbravaram esse mercado, mas acho que uma coisa que favorece os atores, não só os brasileiros, é o streaming. O mundo está caminhando aos poucos para o entendimento da importância de falar das diversidades em todos os aspectos. Para nós, latinos, é um mercado que se abre, principalmente pelo alcance do trabalho. Tive essa experiência com o “Dom” que estreou simultaneamente no mundo inteiro. Quando fiz o teste para o “Ferrari”, o Michael (diretor) quis conhecer um pouco mais do meu trabalho e assistiu ao primeiro episódio de “Dom”. Isso é interessante, pois mesmo sem eu ter enviado nenhum material, o nosso trabalho está disponível de alguma forma.
A terceira e última temporada de “Dom” será lançada no Prime Video, no mês de maio. O que o público pode esperar desse encerramento?
Gabriel: “Dom” foi uma grande virada na minha carreira. Foi a primeira série da Amazon no Brasil e por isso ela teve um investimento e um cuidado diferente. Acho que a história do Dom é muito densa e foi um personagem que me exigiu bastante como ator e nesse meio tempo a gente teve a perda do Breno Silveira, nosso diretor que faleceu. Então foi um processo que mudou a minha vida em todos os aspectos. Quando assisti a essa última temporada, vi uns flashbacks da primeira temporada e notei o quanto amadureci e mudei fisicamente como homem e ator com esse personagem. A gente conclui essa história com muitas mãos cuidando disso e sempre com o Breno dentro de nós. É uma conclusão de uma história muito triste baseada na vida real, então ela é muito triste e pesada. Mesmo sendo uma tragédia, o final deixa claro o porquê resolvemos contar essa história.
Por fim, quais são os seus grandes objetivos na carreira como ator?
Gabriel: Não tenho uma meta específica. Sempre enxerguei a minha carreira como uma escada, procuro estar sempre em busca de me desenvolver, evoluir mais e buscar novos desafios. Sei que parece clichê, mas é verdade. Comecei fazendo teatro de forma acidental e o que fez me apaixonar por essa profissão é a possibilidade de ser múltiplo, de ser mais de uma pessoa e experimentar situações diferentes e é isso que eu sigo buscando nos projetos que eu faço.