É raro encontrar alguém que nunca ouviu um “DES-PA-CI-TO” e que não tenha enjoado das repetidas e repetidas vezes que “Despacito” foi reproduzida desde o seu lançamento em 2017. Não à toa, a canção de Luis Fonsi com Daddy Yankee é a dona do videoclipe mais assistido da história do YouTube, com quase 8 bilhões de visualizações. Esse retorno de audiência, em relação à faixa, trouxe os holofotes para a cena da música latina nos últimos anos.
A estreia e sucesso da canção, no entanto, marcaram apenas o começo da ascensão desse estilo musical. Divulgada em 2021, uma pesquisa do Instituto Alpha Data, da Rolling Stone EUA, mostra que a busca pela música latina cresceu 25% nas plataformas de streaming entre 2019 e 2020. A crescente do movimento se deve muito ao destaque dos artistas latino-americanos na indústria da música, como J Balvin, Karol G, Maluma, Bad Bunny, entre outros.
Grande parte do avanço, porém, está relacionado ao espaço tomado pelo streaming no consumo musical. O crescimento de plataformas digitais, como o Spotify, foi fundamental para que diferentes gêneros e estilos musicais ganhassem força e audiência internacionalmente – por consequência, impactando a cena da música latina.
Atualmente, o Spotify possui mais de 400 milhões de ouvintes em 184 países. Além disso, há diferentes serviços de streaming que foram chegando ao público ao longo dos anos, como o Amazon Music, Tidal, YouTube Music, Deezer e outros. Para André Felipe de Medeiros, crítico cultural (Música Pavê, Monkeybuzz, Itaú Cultural), as plataformas agilizaram o contato dos ouvintes com os diferentes estilos musicais: “se sempre houve um intercâmbio de músicas entre os países do globo, ainda que minimamente em muitos casos, as trocas estão muito mais velozes, e pessoas do outro canto do mundo podem ter acesso a uma música no momento em que ela é lançada na Colômbia, no Peru ou no Uruguai”, fala.
Conforme Medeiros pontua, a ascensão da música latina por conta do streaming fica evidente a partir de uma análise do contexto geral. Isso, porque, mesmo quando nomes como Ricky Martin com “Livin’ La Vida Loca”, Carlos Santana com seus hits “Smooth” e “The Name of Love” ou Enrique Iglesias com seus grandes sucessos chegaram à cena mundial, o impacto da música latina era consideravelmente menor.
“Na última ‘onda latina’, que aconteceu há uns 20 anos, [a música latina] teve um impacto muito menor em nível global enquanto mercado nos países não-latinos. Desta vez, a influência foi, sim, estética e afeta as produções de gente ao redor do mundo”, explica.
Pasito a pasito
Apesar do sucesso de “Despacito”, outro grande momento da música latina está certamente relacionado ao hit “Macarena”, lançado em 1993. Mesmo entre as gerações mais novas, é quase impossível encontrar alguém que não conheça a coreografia do clássico refrão: “Dale a tu cuerpo alegria, Macarena”.
O processo de avanço dessa tendência foi, portanto, gradual e significativo. Ao longo das últimas décadas, Shakira, Enrique Iglesias, Thalia e outros importantes nomes conquistaram um fortalecimento para o estilo. No entanto, em geral, apostavam na língua inglesa para a letra das suas canções.
É, por isso, que o momento de “Despacito” é tão importante. O lançamento de Luis Fonsi fez com que muitos artistas passassem a utilizar, na maioria de suas músicas, seu idioma de origem: o espanhol. A partir daí, a identidade dessa cena começou a ser mais pensada e ressignificada. E, então, como definir “a música latina”?
“Talvez, os elementos que compõem a identidade latina sejam tantos que, na verdade, podemos pensar também em várias identidades latinas. É o que descende do Latim? Então é Itália, França e Península Ibérica (e suas colonizações). E o que é latino-americano, geograficamente falando? E o Brasil se entende como latino, nesse contexto, mesmo com o contraste do idioma? E quando um japonês faz reggaeton, é música latina? Tudo isso para dizer que os referenciais são muitos, então as nossas respostas também podem ser”, reflete André Felipe de Medeiros.
Ainda, o crítico musical não deixa de ponderar: “Se pensarmos em ‘música latina’ como feita nos países americanos de colonização ibérica (do México à Argentina, incluindo o Brasil), talvez a maior semelhança seja a influência africana nos ritmos e nos instrumentos, recombinados com aquilo que os colonizadores trouxeram. […] Como um todo, a música latina é mais africana do que nativa da América. Samba, funk carioca e reggaeton são sempre bons exemplos.”
É importante observar que nem todos os artistas latinos cantam apenas em espanhol. Entretanto, esse novo momento da cena, desde Luis Fonsi até os dias atuais, mostra que, para ter “sucesso mundial”, não é necessário abandonar as próprias raízes e influências.
Anitta na cena latina
Lançada em 2016, a primeira experiência de Anitta com a cena latina foi a partir de uma versão de “Sim ou Não”, traduzida para “Si o No”, em parceria com o colombiano Maluma. Pouco depois, em 2017, compartilhou “Paradinha”, sua primeira música solo cantada completamente em língua espanhola.
O sucesso de ambas as canções fez com que a cantora brasileira continuasse apostando em músicas em espanhol, como “Veneno” (2018). Agora, em 2022, alcançou seu principal marco enquanto artista na cena latina.
Por conta do sucesso da sua faixa “Envolver”, um enorme hit que viralizou nas redes sociais, Anitta entrou para o Guinness World Records como a primeira artista solo latina a alcançar o Top1 no Spotify. A marca foi alcançada em março, quatro meses após o lançamento da cantora.
Segundo relata o Guinness, “em 24 de março, a premiada cantora brasileira, atriz, e personalidade da TV, Anitta (Larissa de Macedo Machado), atingiu o primeiro lugar da Global Top 200 do Spotify, com ‘Envolver’, depois de acumular 6,39 milhões de streams mundiais”.
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