Devido à sua fama meteórica, o BookTok — comunidade de leitura do TikTok — traz os holofotes para diversas obras literárias (das modernas às clássicas), e “Anatomia: uma história de amor” é um exemplo disso. O livro best-seller do New York Times, escrito por Dana Schwartz, foi aclamado na rede social, conquistou o sucesso internacional e chegou ao Brasil pela Intrínseca em maio.
Primeiro livro da duologia “Anatomia”, a obra de Dana Schwartz acompanha a história de Hazel e Jack, dois jovens curiosos e sonhadores que se cruzam em circunstâncias bizarras em Edimburgo, no início do século XIX. Enquanto Jack sobrevive desenterrando corpos, Hazel luta para se tornar uma médica-cirurgiã.
Quando o caminho deles se encontram, eles começam a trabalhar juntos em prol dos seus objetivos. Nessa jornada de “anatomia”, descobrem segredos sobre os próprios corações. Superoriginal e singular, “Anatomia: uma história de amor” combina elementos históricos com uma trama misteriosa e macabra, mas que não deixa o romance de lado.
Roteirista de televisão e criadora do podcast de sucesso “Noble Blood”, um programa de não ficção com histórias sombrias da realeza, Dana Schwartz já atuou como crítica e jornalista. Ainda, é autora de quatro livros, incluindo a duologia “Anatomia: uma história de amor” e “Immortality: a love story” [“Imortalidade: uma história de amor”, em tradução livre]; a sequência ainda não foi lançada no Brasil.
Em entrevista exclusiva à Voepass, Schwartz falou um pouco acerca da carreira, trouxe curiosidades sobre o best-seller, além de deixar dicas para novos escritores. Confira, abaixo, a conversa com a autora norte-americana:
Você poderia nos contar um pouco sobre a sua carreira? Como surgiu o interesse em escrever livros?
Dana: Na verdade, estudei ciência na faculdade com a intenção de me tornar médica, mas, durante a vida toda, sempre amei ler e escrever. Eu escrevia para a revista de cultura da minha faculdade e, ocasionalmente, fiz uns bicos em jornalismo após a graduação. Escrever livros sempre foi um sonho, mas eu nem sempre pensei que isso seria realmente uma possibilidade.
Seu podcast influenciou você a escrever “Anatomia: uma história de amor”?
Dana: Na verdade, acho que tive a ideia para Anatomia primeiro! Nenhum deles inspirou o outro — ambos vieram do mesmo lugar, que é apenas o meu amor inerente por história, especialmente quando ela é sombria e um pouco macabra.
E como é o seu processo criativo de escrever livros?
Dana: “Pânico” é um processo criativo? Amo pensar sobre cada elemento do livro — o enredo, a ambientação e os personagens coadjuvantes — e, depois, tento me forçar a escrever por algumas horas todos os dias. Alguns dias são mais bem-sucedidos do que outros. Tenho minhas melhores ideias quando estou caminhando, no chuveiro ou [quando estou] conversando com meus amigos ou meu marido sobre ideias que ainda não estão totalmente formadas.
Você trouxe diferentes elementos narrativos em “Anatomia: uma história de amor”. Como foi o seu processo para criar esse livro?
Dana: Penso que foi natural. Meu objetivo era apenas tentar escrever exatamente o tipo de livro que eu gostaria de ler e tentar captar os elementos do estilo gótico que acho muito interessante. Tive que fazer muita pesquisa em relação à medicina do século XIX, mas eu queria que a história em si parecesse quase fantástica.
“Anatomia: uma história de amor” é um livro superoriginal. Como você definiria o gênero desse livro?
Dana: Talvez gótico? Acredito que uma das vantagens de escrever Anatomia como um romance jovem adulto foi o fato de ninguém ter que ficar muito confuso sobre se ele deveria ser categorizado na seção de ficção histórica ou de fantasia. Gosto de livros que são diferentes, que captam um sentimento a mais do que apenas recriar gêneros específicos.
O livro apresenta várias questões interessantes sobre anatomia. Por que o interesse nesse tema?
Dana: Para mim, há algo fascinante sobre a justaposição acerca da elite no século XIX — realizando bailes formais e construindo novas universidades — e a realidade sombria que realmente permitiu esse progresso. O começo do século XIX foi um tempo fascinante para a ciência, e acho que é incrivelmente interessante olhar para trás, para pessoas que pareciam ter muita certeza do que estavam fazendo, e entender, hoje, [com os avanços que temos], em que eles erraram.
A figura da Hazel [a protagonista] é poderosa e inspiradora. Como a Hazel surgiu?
Dana: Eu sabia que eu queria uma mulher jovem que fosse corajosa, determinada e brilhante, mas a personalidade de Hazel, na verdade, não me veio até que eu estivesse escrevendo [o livro] de fato. Gostei da ideia de construir uma personagem que era tão confiante e segura de si, mesmo quando ela era colocada em situações incomuns, que, em geral, eram aterrorizantes.
As personagens são cativantes e nos fazem sentir parte da história. Como foi o desenvolvimento dessas personagens?
Dana: Tentei construir os personagens com falhas e que sempre pensam que a sua própria perspectiva está correta. Às vezes, vejo um desenho ou uma foto que faz o personagem tomar vida — tinha uma edição especial de Frankenstein com um Victor muito esguio na capa, e eu tive essa imagem na minha mente quando eu estava escrevendo Jack. A partir daí, eu apenas tentei imitar padrões que soassem naturais.
Atualmente, o que mais te chama a atenção na história da Hazel? É a mesma coisa que era na época em que você estava escrevendo?
Dana: Amo a ambientação e amo que pude escrever cenas muito macabras sobre cadáveres. Acho que essa ainda é minha coisa favorita. Mas para ser totalmente honesta, não gosto de reler meu próprio trabalho — me deixa nervosa!
E por que você decidiu escrever uma sequência para “Anatomia: uma história de amor”?
Dana: Originalmente, pensei que Anatomia: uma história de amor seria uma história por si só, mas alguns meses após eu terminar [de escrever o livro], me peguei sentindo falta do mundo de Hazel e Jack, e eu percebi que tinha mais história para ser contada. Gostei da ideia de colocar a Hazel em um ambiente totalmente novo: em Anatomia, ela está em Edinburgh; em “Immortality” [“Imortalidade”, em tradução livre], ela está principalmente na corte de George III, em Londres. Definitivamente, foi alguma pesquisa histórica para [o podcast] Noble Blood que me inspirou a querer escrever versões fictícias de figuras históricas reais, como a Princesa Carlota de Gales e o Lord Byron.
Quais foram as suas referências para escrever “Anatomia: uma história de amor” e “Immortality”?
Dana: Tiveram muitos livros maravilhosos que me deram perspectivas de quando se começaram a fazer cirurgias. Dois livros em particular são “Medicina dos horrores” [“The Butchering Art”, de Lindsey Fitzharris] e Dr. Mutter’s Marvels [de Cristin O’Keefe Aptowicz].
Qual é seu conselho para novos escritores? Qual seria seu conselho para quem quer escrever uma história original como “Anatomia: uma história de amor”?
Dana: Se apegue naquilo que você genuinamente acha emocionante. Ao invés de seguir tendências ou escrever algo que você pensa que as outras pessoas possam gostar, encontre um personagem, um tema ou uma ambientação que você ache interessante.