Aos 58 anos ele já escalou o Everest, a montanha mais alta do planeta, mergulhou à noite com arraias gigantes no Havaí, entrou no vulcão mais ativo do mundo, viu a aurora boreal, nadou com tubarões, correu uma maratona na Antártica e já “comeu muita poeira” nos desertos do Saara e do Atacama. Esse é Clayton Conservani, jornalista e aventureiro durante o trabalho e nas horas vagas também.
Natural de Resende, sul do estado do Rio de Janeiro, bem perto do Parque Nacional do Itatiaia, Clayton começou a se aventurar ainda criança. Aos 9 anos já fazia trilhas na companhia de um professor de alemão. Ali foi o primeiro encanto com as montanhas e a natureza. Chegou a participar do Grupo Excursionista Agulhas Negras (GEAN), na sua cidade natal. Daqui em diante, a paixão pela aventura só crescia na vida deste fluminense.
Você já escalou cinco das sete maiores montanhas do mundo. Como foi?
Clayton Conservani: Já escalei cinco dos sete cumes do mundo e cheguei ao topo de três. No Aconcágua, tive que ajudar em um resgate muito perto do topo, por isso não cheguei ao final. No Everest, também não cheguei ao topo. Peguei uma tempestade a 7.700 metros de altitude, que estava arrancando as barracas. Foi um momento muito difícil. Escalei o Monte McKinley (Alasca) e lá eu cheguei ao topo. Ela é considerada uma das montanhas mais frias do mundo e no inverno bate menos 50 graus. Foi uma subida bem dura, com 18 horas e caí em uma greta. A gente estava indo para o penúltimo acampamento e eu era o segundo da corda. O guia passou e quando fui passar, abriu. Era uma fenda em forma de V, estreita no começo, mas um buraco azul sem fim. Também escalei a Pirâmide Carstensz, na Oceania, que é o ponto daquele continente, e o Monte Elbrus, na Rússia, que é o ponto mais alto da Europa.
Para o Aconcágua e Everest, você pretende voltar em algum momento?
Clayton: Eu fui convidado em 2024 e tive uma pequena chance de voltar ao Aconcágua. Talvez eu volte lá. O Everest é uma decisão que tem de ser muito bem tomada, porque não é um passeio no parque. Na verdade, nenhuma dessas montanhas é um passeio no parque. Elas precisam de respeito.
Como é o processo de preparação para escalar?
Clayton: A preparação para uma montanha exige um esforço físico muito grande. Faço corridas de longa distância e muitas trilhas. Treino nas montanhas onde eu nasci, que já têm quase 3 mil metros de altitude. Aqui, no Rio de Janeiro, corro na areia fofa. Gosto de pedalar e também subo muitas montanhas na cidade. A Pedra da Gávea é a minha favorita, por ser uma subida bem íngreme. Gosto de nadar e de remar. Tenho uma prancha de stand-up paddle, então remo bastante. Também gosto de surfar. Meu treinamento é bem variado, aí entra também musculação, que não tem como fugir.
Você participou de uma maratona na Antártida?
Clayton: Eu já tinha ido para a Antártica, em 2003, velejando. Mas em 2010, fui gravar a maratona para o Planeta Extremo. Foi o primeiro episódio da série para o Fantástico. Descobri que tinha um brasileiro, o Bernardo Fonseca, que é um triatleta e ele já tinha corrido na Antártica nessa prova. Liguei para ele que topou fazer a corrida novamente. E aí nós fomos.Treinamos juntos. Escolhi correr os 42 quilômetros (km), mas o Bernardo correu as duas provas, de 42 e 100 km. Fiquei em sétimo lugar entre os 40 corredores. Fiz a prova em 5 horas e 12 minutos. É uma prova muito difícil, em condições bem duras, de vento, de frio com 10, 15, 20 graus negativos. O tempo todo com a sensação de congelamento dos dedos. Foi uma baita experiência! E com esse episódio da Antártica, nós fomos finalistas do Emmy, que é o Oscar da TV Mundial.
Como foram as coberturas do rally Paris-Dakar?
Clayton: Foram cinco vezes e é sempre diferente. Cobri quatro vezes na África e a última vez, na América do Sul, quando o rally migrou por causa de terrorismo. É muito interessante você conhecer a África. A primeira vez que fiz, nós partimos do Senegal e fomos para o Egito. A surpresa que tive logo de cara na cobertura, na primeira vez em 2000, foi que quando a gente estava no Níger, a organização detectou pelo satélite uma movimentação atípica no deserto. Era uma emboscada para atacar o rally. O diretor convocou uma coletiva de imprensa e anunciou que o rally ia ser transferido do Níger para Líbia por causa dessa ameaça terrorista. E não tem como desistir, porque você já está ali dentro daquela caravana. A gente faz geralmente a largada das motos, entra em um avião e pousa onde eles vão chegar. Quando a gente pousava, tínhamos algumas horas de frente para ir para os vilarejos, conhecer cultura, música, artesanato, conviver um pouco e humanizar a história que a gente queria levar ao ar.
Você passou por um terremoto no Nepal. Como foi essa experiência?
Clayton: Foi muito inusitado. Nós saímos de Kathmandu (Nepal), no dia 25 de abril de 2015. No meio do caminho, a reportagem que íamos fazer era mostrar os caçadores de mel de uma região nas montanhas, no Himalaia. Quando estávamos (Eu, Carol Barcellos e toda a equipe) na estrada, o micro-ônibus começou a balançar, e o guia começou a gritar, “Oh meu Deus, terremoto!”. Descobrimos que era o pior terremoto dos últimos 80 anos no país. Vimos postes balançando, revoada de pássaros e poeira levantando de casas desabando. Estávamos bem perto do epicentro e tivemos que mudar os planos. Em vez de fazer os caçadores de mel, retornamos para Kathmandu e ficamos aproximadamente dez dias praticamente sem dormir. A gente entrava ao vivo em todos os telejornais. Convivemos com a morte durante 10 dias e foi muito importante o trabalho em equipe nessa cobertura. Logo após essa tragédia, seguimos e fizemos a reportagem sobre os caçadores de mel nas montanhas, que retiravam favos que estavam a mais de 90 metros de altura.
Você já teve algumas experiências com mergulho e animais. Como foram?
Clayton: Na década de 90, mergulhei no Havaí. Lá fiz dois mergulhos: um nos Lava Tubes, que são cavernas de lava e o outro foi com as arraias gigantes. Elas se alimentam de plâncton e é um mergulho noturno. Você desce, fica ajoelhado no fundo da areia, ilumina o plâncton e elas fazem tipo um balé. Foi uma experiência bacana. Mais recentemente mergulhei com tubarões-tigre nas Bahamas. Essa experiência foi um pouco mais dramática, porque quando a gente foi mergulhar eu falei que queria ficar dentro da gaiola. Chegando ao local do mergulho, o guia arremessou a gaiola para fora do barco. Aí eu olhei e falei: pensei que a gaiola ia ficar ali na popa do barco. Ele falou: não, a gente nada até lá. Só que para nadar até lá, tem que nadar no meio dos tubarões. Fui, entrei na gaiola com o meu instrutor de mergulho, ficamos um pouco e depois saímos. Ficamos ajoelhados no fundo do mar. Você está à mercê dos bichos. Meu guia me deu um stick de plástico, ele falou que era só apontar para o bicho que ele iria desviar. Quando voltamos para o barco, um tubarão foi, bem tranquilo, em direção ao guia, e ele teve que empurrar com as mãos umas três vezes. Fiquei imaginando: se esse bicho vier para cima de mim, não sei se vou ter essa presença de espírito.
Você também correu no deserto do Saara e no Atacama?
Clayton: Sim! É uma prova de 250 km. No Saara, corri com o Bernardo Fonseca. No Atacama, com a Carol Barcellos. É uma prova muito sofrida e tem duração de seis dias. Você tem que carregar tudo o que precisa. A organização só distribui água a cada 10 km e disponibiliza tendas que dividimos com outros participantes. É uma prova na qual você fica muito machucado. A areia vai entrando e você começa a ter bolha nos pés, os calcanhares ficam em carne viva e a mochila machuca as costas. Você tem que ter muito controle mental para não desistir.
De todos esses lugares, onde você tem vontade de voltar?
Clayton: Acho que a aurora boreal é um fenômeno que eu gostaria de ter a oportunidade de ver novamente. É uma coisa muito diferente de tudo que já vi na vida. Parece que você está tendo contato com algo que não é desse planeta. Eu vi a aurora em Tromso, na Noruega. Outro lugar que gostaria de voltar é na caminhada até o acampamento base do Everest pelo Nepal. É algo que eu gostaria de fazer com a minha mulher e com a minha filha. Você caminha por vales, cruza rios naquelas pontes suspensas, todas com aquelas bandeiras de oração. É uma caminhada espiritual.
Como foi conduzir a tocha olímpica em 2016?
Clayton: Foi muito emocionante. Transportei a tocha olímpica na minha cidade natal. Tinha uma multidão, milhares de pessoas gritando o meu nome. Eu olhava para os lados desse corredor humano, via meus amigos de infância e familiares. Apreciei cada metro, cada passo. Foi uma experiência muito emocionante. Agora vou para Paris, fazer a cobertura das Olimpíadas 2024 para o projeto “Paris é Brasa”, da Play9.
Você entrou em um vulcão ativo?
Clayton: Entrei no vulcão Marum, na ilha Ambrym, no arquipélago de Vanuatu, no sul do oceano Pacífico. É o vulcão mais ativo do mundo. Fui com cientistas da NASA, Agência Espacial Americana, entrei na cratera para coletar amostras de pedras, de cinzas para esses cientistas. Foi uma experiência incrível!
Paris 2024!
Clayton Conservani vai estar nas Olimpíadas 2024 em Paris no projeto “Paris é brasa”. A Play9, em parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o YouTube, montou um time de influenciadores de peso, entre eles Conservani, e vai mostrar os bastidores e curiosidades sobre a participação do Time Brasil ao longo da competição. A iniciativa inclui um programa ao vivo no YouTube Brasil, no horário nobre, entre outras entregas em todas as plataformas dos influenciadores. A cobertura vai durar 22 dias.
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