Os clássicos da literatura brasileira vêm de épocas muitos distantes da nossa realidade, e, ainda assim, sua importância cultural é indiscutível
O que os clássicos da literatura têm que os tornam importantes mesmo quando foram escritos séculos atrás? Afinal, quanto mais antigo o livro, maior é a diferença entre a linguagem e os costumes em relação aos dias de hoje. Obras atemporais e que refletem sentimentos universais, os clássicos retratam a cultura de um povo em um período da história.
Quando se fala em clássicos da Literatura Brasileira, podemos falar em histórias de autores como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Raquel de Queiróz e José de de Alencar. O último é o motivo pelo qual dia 1 de maio é o Dia Nacional da Literatura Brasileira, data em que seria seu aniversário.
“Os clássicos da literatura brasileira são relevantíssimos no século XXI, porque eles falam do homem e do Brasil de todos os tempos, com seus problemas, as suas angústias e as suas alegrias, que na sua essência são os mesmos em todos os tempos”, explica o Doutor em Teoria da Literatura pela Unesp, Daniel Garcia Rodrigues, que completa dizendo que por esses motivos são histórias que serão relevantes agora no século XXI e serão relevantes no século XXXI.
Diretor de Operações do Clube de Literatura Clássica, Lorenzo Fioreze destaca que os clássicos sempre se mantêm com um frescor e têm partes que dialogam com dramas essenciais da experiência comum. “É justamente por isso que eles sobrevivem ao teste do tempo. É muito difícil algo completamente desinteressante permanecer sendo replicado por mais de 100 anos”, comenta.
A grande questão é que independentemente de sua relevância, eles encontram muita resistência entre as pessoas, que por vezes os acham difíceis de ler, por vezes os acham chatos por retratar uma cultura diferente ou os dois. Normalmente, os indivíduos são apresentados aos clássicos, na escola, como uma obrigatoriedade para o vestibular.
“Estudar Machado de Assis para passar no vestibular é tão ruim quanto estudá-lo para qualquer outra coisa que não seja para o desenvolvimento pessoal”, conta Daniel. Ele diz que, da forma como é aplicada na escola, a literatura acaba sendo uma chatice voltada para o vestibular ou para coisa nenhuma.
Os clássicos da literatura na cultura popular
A relevância de um clássico é tamanha que muitas obras da literatura atual são inspiradas neles. No cinema e na televisão, podemos ver diversas adaptações da Literatura Brasileira, como “Gabriela” (1975 e 2012) e “Capitu” (2008). Além disso, por mais distantes que as obras pareçam de nossa realidade, consumimos o tempo todo conteúdos que foram, de certa forma, baseados neles.
Lorenzo Fioreze reflete sobre essas questões e pontua: “Eu acredito que as referências mais explícitas já ajudam muito. Pegando Dom Casmurro como exemplo, existe quase uma obsessão pelo Bentinho e pela Capitu, e isso se nota em nossas divulgações em redes sociais com o público mais jovem, como no TikTok”, diz.
Qual obra clássica ler?
Tanto as pessoas que são leitoras assíduas como aquelas que não são, geralmente, têm em mente pelo menos alguns nomes de obras clássicas quando param para pensar sobre o assunto. Afinal, muitos se tratam de livros muito conhecidos da cultura popular, um bom exemplo é Dom Casmurro, de Machado Assis. Mas quando uma pessoa pensa em qual clássico ler, pode surgir uma dúvida sobre em que apostar.
Os títulos “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, “Grande Sertão Veredas” de João Guimarães Rosa e “A paixão segundo G.H” de Clarice Lispector são citados pelo Dr. Daniel García Rodrigues como leituras indispensáveis entre os clássicos.
De acordo com Daniel, essas três obras rompem com as regras previsíveis de se escrever um romance. São obras universalistas, que falam sobre um ser humano que pode ser brasileiro ou de qualquer nacionalidade, em qualquer época, e que rompe com seus períodos históricos.
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” é, inclusive, a escolha de Rafael Souza, Editor do Clube de Literatura Clássica, como o clássico da literatura brasileira ideal para um leitor ser introduzido a esse universo e também para aqueles que já tentaram ler esse tipo de livro e não tiveram sucesso.
“A obra reúne tudo que possa agradar a quem quer ler os clássicos: é uma obra-prima absoluta, é uma leitura divertida, é um livro curto e, ao mesmo tempo, permite ao leitor interessado se aprofundar em muitas questões relativas à vida em geral e ao nosso país em particular”, explica Rafael Souza.
O que se pode observar é que, independentemente da época e em qual contexto os clássicos foram escritos, sua relevância sempre será mantida. Tratam-se de histórias que quebram barreiras culturais e de tempo, fazendo com que não importe o momento em que sejam lidas, elas vão provocar questionamentos e impactos em quem consumiu a história.
Escritor do Romantismo
Como já dito, é em homenagem a José de Alencar que surgiu o Dia Nacional da Literatura Brasileira. Escritor e político, o carioca José de Alencar é um dos principais nomes do romantismo brasileiro, adquiriu notoriedade com “O Guarani” (1857) e é responsável pelo trilogia indianista: “O Guarani”, “Iracema” (1865) e “Ubirajara” (1874).
Embora pontue a importância de Alencar dentro da literatura brasileira e destaque “O Guarani” como sua principal obra, o Doutor em Teoria da Literatura Daniel Garcia Rodrigues admite suas ressalvas em relação ao autor, que, de acordo com ele, tem uma visão muito romantizada da mulher e do indígena.
A obra é a mesma destacada por Rafael de Souza: “Esta obra reúne em si o anseio e o fracasso da elite intelectual brasileira em compreender e/ou forjar a identidade nacional com todas as suas contradições”, diz.