Os cargos de liderança no setor da aviação brasileira são ocupados majoritariamente por homens, mas existem mulheres que desempenham papéis importantes e que se destacam por onde passam. Esse é o caso de Mariceli Gonçalves. Natural do interior de Minas Gerais, a profissional se formou em engenharia de produção e iniciou sua carreira na indústria metalúrgica. Ela alcançou voos mais altos, mudou de estado, de vida e, hoje, é Diretora de Segurança Operacional da Voepass Linhas Aéreas, a primeira mulher a ocupar esse cargo em uma companhia aérea no Brasil.
E para celebrar o Dia Internacional da Mulher, batemos um papo com Mariceli sobre a sua história de vida e de carreira, as motivações que a levaram a ingressar no setor aéreo, as experiências ao assumir a posição de Diretora de Segurança Operacional e o que isso representa para ela e para outras mulheres. Confira.
Você é formada em engenharia de produção, trabalhou no setor de qualidade na indústria metalúrgica e de lá alçou voos mais altos. Como foi essa trajetória?
Mariceli Gonçalves A minha carreira profissional se iniciou na indústria, na área de produção de ferro liga, que é uma matéria-prima para o aço. Posteriormente, eu trabalhei na área de qualidade nessa mesma indústria. E foi daí que obtive experiência para assumir um cargo na MAP Linhas Aéreas. Existia uma preparação para uma certificação internacional, e eles precisavam de alguém que trabalhasse no setor da qualidade, com padronização de documentos e com auditoria.
Trabalhar no setor aéreo era um sonho distante, já que eu morava no interior de Minas Gerais. Então, abracei a oportunidade e, em 2016, mudei-me para Manaus exclusivamente para trabalhar na MAP.
Trabalhar com aviação sempre foi um sonho para você. Como foi receber o convite da MAP Linhas Aéreas?
Mariceli Trabalhar com aviação sempre foi um sonho, e acredito que seja o de muitas crianças, adolescentes e adultos. É muito grandioso e encantador, não sei explicar como eu recebi essa notícia. Para mim, trabalhar na MAP foi um privilégio e uma honra. Sou do interior de Minas Gerais, então eu nunca tive contato direto com aviação e com profissionais da aviação, como conseguir conversar com um piloto ou comissário. Isso, para mim, era uma coisa que eu jamais iria conseguir na vida. E você entrar em um avião e descer no seu destino é um processo muito pequeno perto da complexidade que existe por trás de uma operação com aeronaves. Então isso tudo me encantou desde o dia em que pisei na MAP e entrei em um avião, não para fazer uma viagem, mas para entender como funcionava a dinâmica, a comunicação e a parte da segurança. Receber um convite desses e saber que eu teria a oportunidade de vivenciar esse momento foi emocionante!
Onde o setor de qualidade atua na aviação?
Mariceli O setor de qualidade na aviação é uma área da Segurança Operacional e da Segurança da Aviação Civil e garante o cumprimento dos requisitos regulatórios. Essa garantia acontece por meio da realização de auditorias em todas as áreas de operação e administração. Outra forma que a qualidade usa para garantir esses cumprimentos é que a manutenção de todos os documentos usados pela empresa estejam atualizados e adequados, e, assim, a operação está em vigilância.
A mudança para Manaus representou um passo importante e desafiador na sua vida pessoal e profissional?
Mariceli Foi bastante desafiador ir para Manaus e começar do zero. Na época, eu era supervisora de produção em Minas Gerais e, quando assumi o cargo, fui como analista de qualidade. Então apesar de ter família em Manaus e ter um certo apoio estrutural, é muito desafiador. E tomei essa decisão um pouco tarde, aos 36 anos; hoje, tenho 42. Profissionalmente, não é uma idade que a gente coloca em jogo a nossa história e carreira. Portanto, eu precisava desse momento de mudar de cidade, de ter mais conhecimento e mais experiência, mas, ao mesmo tempo, eu vim com muito medo, pois eu não sabia o que me esperava. Foi bastante desafiador, mas muito importante.
A MAP foi adquirida pela Voepass Linhas Aéreas e vieram novos desafios, agora em uma companhia nacional. Como foi esse período de mudanças?
Mariceli A chegada da Passaredo na MAP foi preocupante, porque a MAP sempre foi uma empresa regional, com poucos desafios, modificações na malha e poucas aeronaves. A partir do momento em que nos transformamos em VOEPASS, o contato profissional e o suporte que tivemos da companhia transformaram a preocupação em uma oportunidade de crescimento gigantesca, porque a nossa operação começou a ser vista com outros olhos. Então a nossa malha de voos, junto dos profissionais capacitados que a MAP tinha, foram induzidos ao crescimento. Foi nesse momento que fui promovida a gerente de qualidade no setor de segurança operacional.
Além disso, consegui participar de vários outros sistemas e processos que eu não tinha contato antes. Viajei por todo o Brasil, conheci as bases da Voepass e tive contato com os diferentes setores de uma companhia aérea. O contato e as vivências das dificuldades da operação em si me trouxeram muito conhecimento e oportunidades de observar o que executa cada voo.
Seu trabalho como gerente foi reconhecido, e, recentemente, foi convidada para ser Diretora de Segurança Operacional. Como foi receber essa oportunidade e esse desafio?
Mariceli Receber esse convite me trouxe um mix de sentimentos, pois, ao mesmo tempo em que eu sentia gratidão pela oportunidade e reconhecimento, também senti muito medo. Na época, não me sentia preparada para assumir tal função. Porém, analisando friamente e assimilando tudo o que estava acontecendo, mesmo que a gente ache que não somos capazes e que não estamos psicologicamente preparados para assumir a função, a gente deve fazer. É o que motiva o crescimento profissional e motiva toda a nossa percepção de um mundo que não faz parte da nossa rotina, embora seja um mundo alcançável. Então mesmo que eu não estivesse me sentindo pronta naquele momento, eu aceitei o desafio.
Quais são as responsabilidades de uma Diretora de Segurança Operacional (DSO)?
Mariceli A maioria dos passageiros, quando viajam de avião, não se preocupam com a segurança da operação, porque existem pessoas que garantem isso por eles. O principal trabalho da DSO é conhecer todos os riscos inerentes a uma operação e implementar medidas de segurança para garantir uma viagem segura tanto para o passageiro quanto para o tripulante. Em um aeroporto, por exemplo, atuamos avaliando a infraestrutura, a pista, a capacidade de processamento de passageiros e todas as outras particularidades presentes no local. E mesmo após o início da operação, permanecemos inspecionando constantemente para identificarmos qualquer mudança que possa afetar a operação ou que coloque em risco a segurança das atividades.
Nós mulheres já somos pioneiras em diversas áreas da aviação. A gente carrega com orgulho cada conquista que as nossas antecessoras tiveram, e isso nos motiva a continuar quebrando todas as barreiras que ainda persistem”
Perante os órgãos reguladores da aviação civil, como ANAC, CENIPA e DECEA, a DSO é considerada o contato focal, ou seja, é a representante da segurança. Internamente na empresa, atuo de maneira bem próxima dos colaboradores, disseminando a importância de práticas seguras e incentivando a participação de todos na operação para que tenham um olhar mais apurado e sejam capazes de identificar sempre que um potencial desvio estiver prestes a acontecer. Isso faz, assim, com que todos se sintam responsáveis pela segurança.
Você é a primeira Diretora de Segurança Operacional do Brasil. O que acredita que isso representa?
Mariceli Recebi essa notícia e fiquei bastante surpresa. Sabemos que existem muitas mulheres espalhadas no país altamente qualificadas e preparadas para assumir cargos como esse, em qualquer outra empresa e não apenas no setor de aviação. Então eu vejo que a minha ascensão profissional também está ligada a uma realização pessoal. É uma porta que se abre para que outras mulheres assumam cargos de confiança e de diretoria no Brasil inteiro. Espero, de coração, que daqui a pouco eu não esteja sozinha. Hoje sou considerada como exclusividade, mas desejo que, em um futuro próximo, tenha outros colegas de trabalho que possam trocar experiências comigo e que possam me ajudar a crescer. Assim, posso proporcionar isso para elas também.
O que você diria para outras mulheres que, assim como você, sonham em trabalhar na aviação?
Mariceli Nós mulheres já somos pioneiras em diversas áreas da aviação. A gente carrega com orgulho cada conquista que as nossas antecessoras tiveram, e isso nos motiva a continuar quebrando todas as barreiras que ainda persistem e aquelas que encontramos no caminho. Além disso, existem algumas percepções e qualidades que a gente precisa ter ao longo da nossa carreira não só na aviação, mas em qualquer outra atividade. Tem uma frase que eu sempre levo comigo e ela sempre me motiva muito, que é: “Um sonho sem ação se torna uma mera alucinação”. Ou seja, se a gente não estiver constantemente executando os pequenos passos para alcançar aquilo que a gente almeja, a gente nunca chega lá.
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