Conhecida como a terra do queijo, Minas Gerais tem tanto apreço por sua culinária que até ganhou uma data no calendário anual para celebrá-la: o Dia da Gastronomia Mineira, em 5 de julho. Mesa farta e pratos inspirados na comida de roça, aproveita-se ingredientes da terra para proporcionar sabores surpreendentes, que vão das criações salgadas consolidadas, como nosso consagrado pão de queijo, às compotas de doces caseiros.
Uma gastronomia de miscigenação
A formação histórica de um local diz muito sobre sua gastronomia. Em Minas, não foi diferente. Como em boa parte do país, os costumes gastronômicos do estado têm raízes na fusão das diferentes culturas que o povoaram. O estilo da gastronomia mineira, como conhecemos hoje, consolidou-se há 300 anos, na época do Ciclo do Ouro.
Nesse período, Minas Gerais atraía diversas pessoas de todos os cantos do país para explorarem suas terras em busca de minério e de outras pedras preciosas, como diamantes. Além dos povos nativos, que eram os indígenas, e da presença de escravos e de portugueses, o estado virou lar de tropeiros gaúchos, de bandeirantes paulistas e de trabalhadores do norte e do nordeste. Cada um desses contribuiu com suas influências gastronômicas, o que resultou em uma culinária bastante miscigenada. “A gastronomia mineira vem dos escravos, dos índios, dos portugueses e dos estrangeiros que estiveram aqui, então é uma mistura incrível de história, sabor e tradição”, conta o Chef Gustavo Pereira, da Partager Gastronomia.
Como minha família tinha fazenda, boa parte da gastronomia eu via fazer, da plantação ao cultivo, até chegar à mesa.”
Chef Gustavo Pereira, da Partager Gastronomia
Dos indígenas, ela herdou o pirão, a farofa, a mandioca, o milho etc., enquanto os portugueses contribuíram com os doces, os bolos e os diferentes preparos com o ovo, e os escravos e sertanejos, com o melado e a rapadura, por exemplo.
Há alguns séculos, a variedade de ingredientes era mais escassa do que a que encontramos hoje, e, assim, muitas receitas foram criadas a base de produtos locais abundantes, como é o caso da mandioca. Outros ingredientes que fazem parte da identidade da gastronomia mineira são o feijão, o quiabo, as carnes de gado e de porco e, claro, o torresmo. “Em termos de preparo, o mineiro adora a famosa panela de barro para os pratos salgados e a panela de cobre para os doces.”
Gastronomia Mineira: comida de roça de verdade
O modo de vida da época também influenciou na construção do DNA da culinária mineira, pois a preocupação era de que as refeições fossem fortes o suficiente para sustentar e dar energia aos trabalhadores que exploravam as riquezas das terras e aos viajantes que as transportavam por longas distâncias. Um prato tradicional que é herança desse tempo, por exemplo, é o feijão-tropeiro.
Depois do período de exploração das minas de ouro, Minas Gerais passou por um processo de ruralização, em que a agricultura se desenvolveu mais e a vida econômica e social estava a todo vapor no início do século XX. Além do plantio, o estado investiu na pecuária e em outro produto seu famoso: o queijo.
Assim, sua gastronomia é muito marcada pela ruralidade presente nos pratos, sendo conhecida como “culinária de quintal”, espaço urbano no qual foram reproduzidos os costumes e valores da roça. Alguns dos pratos considerados tradicionais têm elementos que eram facilmente encontrados nas casas dos mineiros, como frango, ovos e plantas de fácil cultivo. “Como minha família tinha fazenda, boa parte da gastronomia eu via fazer, da plantação ao cultivo, até chegar à mesa. Todo o processo passava pelo nosso quintal até a nossa mesa.”
Gustavo destaca que a essência da gastronomia mineira é familiar, carregada de afeto e de tradição, sendo passada de geração em geração. “A tradição de ficar em volta da mesa, na cozinha, compartilhando histórias é super importante para os mineiros. Em relação à gastronomia, a variedade, o carinho e a fartura também mostram o quanto isso é importante. É uma gastronomia simples, rica e saborosa.”
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