As letras com temáticas universais, como a ganância pelo dinheiro, a acelerada passagem do tempo e os abismos da loucura, permeadas por canções com sons de caixas registradoras, relógios, batidas de coração e vozes conversando. “The Dark Side of the Moon” (“O lado obscuro da lua”, em tradução livre), oitavo álbum de estúdio da banda britânica Pink Floyd, à primeira vista pode sinalizar algo difícil de encarar, muito longe das “facilidades” da música pop.
Mas ao colocá-lo para rodar, seja em um charmoso toca-discos ou nas plataformas de streaming, fica fácil entender como esse álbum conceitual fez a banda emplacar hits como “Money”, “Time”, “Us and Them” e “Brain Damage” – esta última em homenagem ao ex-líder da banda e enlouquecido, Syd Barret. Com a união das habilidades artísticas de Roger Waters (vocal, baixo e principal letrista), David Gilmour (guitarra), Richard Wright (teclado e piano) e Nick Mason (bateria), o Pink Floyd entrou para a história da música e da indústria fonográfica.
Dark side: 777 semanas consecutivas em 1º na Billboard
Lançado em 1º de março de 1973, estima-se que foram vendidos, até hoje em todo o mundo, mais de 45 milhões de cópias de The Dark Side of the Moon. Foram 777 semanas consecutivas – 15 anos – na parada de discos mais vendidos da Billboard, um recorde que colocou o Pink Floyd como uma das maiores bandas da história do rock britânico.
Som inovador em Dark Side
Escritor e fundador da revista Poeira Zine, o jornalista musical Bento Araújo destaca que Dark Side continua bem relevante no universo do rock, mesmo após 50 anos. “É curioso ele ter essa força até hoje. Foi uma combinação de fatores, desde a capa super icônica, passando pelo som do disco, com efeitos sonoros, colagens e experimentos com as fitas. De fato, é um disco com “samples” em uma era pré-digital, isso é muito interessante”, diz.
Ainda sobre a sonoridade, ele destaca o trabalho de supervisão de mixagem de Chris Thomas e do engenheiro de som Alan Parsons, durante a gravação no famoso estúdio Abbey Road. Isso deixou Dark Side “mais sofisticado”, como desejava o guitarrista David Gilmour. “Já o Roger Waters queria um mix mais agressivo e cru, e o Gilmour queria algo clean para o ouvinte. É aí também que começam as grandes discussões internas do Pink Floyd”, explica Araújo.
Retrato da época
O jornalista vê o disco como um retrato da época, e seu conceito inovador é o que faz ele permanecer como um item de curiosidade para os fãs de música, mesmo os mais novos, depois de décadas. “Até quem não curte muito o estilo do rock progressivo, tem esse disco como referência sobre como foi a música pop nos anos 1970, o modo como eram criados esses álbuns”, afirma.
Dark Side of the Moon: Guiado pelas emoções
Se na questão do som David Gilmour saiu ganhando, são as letras do baixista que baseiam a temática das angústias do homem moderno que permeiam o oitavo trabalho da banda. “No caso, nas emoções de um ser humano perturbado como Roger Waters (risos)”, diz. “É por isso que ele fez sucesso dessa forma, porque no fundo a gente se conecta a isso”, ressalta o jornalista.
E foi com a emoção de ouvir o clássico pinkfloydiano de forma inesperada, que Bento Araújo conta ter sido “fisgado” por The Dark Side of the Moon, em uma história muito curiosa. “Me lembro claramente. Estava em meu primeiro emprego, aos 16 anos, como recenseador do IBGE. Desci do elevador, no hall do andar de um prédio, e em um dos apartamentos estavam escutando o Dark Side alto pra caramba. Fiquei ali ouvindo e na hora pensei: ‘nossa, como esse álbum é bom. Eu preciso reouvir’”, recorda.
Uma obra-prima completa
Ao ser questionado sobre a sua música ou trecho predileto do disco, ele explica enxergá-lo “como uma obra inteira, um conceito acima de tudo”. “É uma obra compacta, concisa, então é difícil extrair algo separado desse ‘arquivo zipado’ que é esse disco para mim. Você abre ele a hora que vai ouvir, ‘mergulha’ e é essa viagem”, ressalta Araújo.
Para o jornalista, há explicações plausíveis para o sucesso do álbum, além, é claro, da qualidade das músicas. “Era um outro mundo. Estavam todos se dedicando a essas novidades nos estúdios de gravação, e a consumir esse tipo de produto. O tempo parece que rodava de uma outra maneira. Hoje o mundo mudou, mas apesar disso ainda há pessoas que acham espaço nas suas rotinas para ter essa experiência de ouvir esse disco e assimilá-lo de uma forma inteira, do jeito que precisa ser”, complementa.
Dark Side of the Moon: Livro com fotos inéditas
Para celebrar os 50 anos de seu trabalho mais famoso, o Pink Floyd irá lançar um livro com mais de 100 fotos raras e inéditas sobre os bastidores da turnê do álbum, artigos sobre shows antológicos e um capítulo especial que revela a concepção visual da icônica capa de “The Dark Side of the Moon”, o famoso prisma sendo atingido por um feixe de luz e se transformando em um arco-íris.
Idealizada pelos designers Aubrey Powell e Storm Thorgerson, do estúdio Hipgnosis, a capa do álbum se tornou a imagem mais associada à banda em toda sua história e um símbolo das capas de disco. A ideia era representar a profundidade que o som que o Pink Floyd escondia por trás de sua aparência simples.
The Dark Side of the Moon (ficha técnica)
Harvest/Capitol/PolyGram/Universal Music
Gravado nos estúdios Abbey Road, em Londres, entre maio/72 e janeiro/73
Produção de Pink Floyd
Tempo: 42’59”
Participações: Dick Parry (saxofone); Clare Torry (vocal em “The Great Gig in the Sky”); Lesley Duncan, Doris Troy, Barry St. John e Liza Strike (vocais de apoio)
Lado A
Speak To Me (Nick Mason)
Breathe (Roger Waters/David Gilmour/Richard Wright)
On The Run (Gilmour/Waters)
Time [Breathe (Reprise)] (Waters/Gilmour/Wright/Mason)
The Great Gig in the Sky (Wright/Claire Torry)
Lado B
Money (Waters)
Us and Them (Waters/Wright)
Any Colour You Like (Gilmour/Wright/Mason)
Brain Damage (Waters)
Eclipse (Waters)