Lidar com dinheiro está longe de ser um relacionamento fácil e equilibrado para a imensa maioria das pessoas. Comportamentos prejudiciais, como gastar mais do que se ganha e não se planejar financeiramente para o futuro, são situações comuns que, mais do que impedir a estabilização econômica, colocam “no vermelho”, ao menos, 71,95 milhões de brasileiros, de acordo com dados do Serasa.
Sair das dívidas e começar a trilhar o caminho da independência financeira em 2024 é menos difícil do que pode parecer à primeira vista. Porém, é preciso ter foco e disciplina. E quem garante isso é uma das vozes mais ouvidas hoje em dia quando o assunto é poupar dinheiro. Influencer de finanças e jornalista com passagens por SBT e Record, Nathalia Arcuri, aos 39 anos, é fundadora e CEO do “Me Poupe!”, um fenômeno da internet brasileira, com mais de 7,5 milhões de inscritos no YouTube.
O estilo leve, divertido e direto com que Nathalia aborda o assunto foi a forma encontrada para orientar as pessoas a terem um relacionamento mais saudável com o dinheiro, como no livro “Me Poupe!: 10 passos para nunca mais faltar dinheiro no seu bolso”, lançado em 2018. “Investir é hábito, é constância”, explica a celebridade mais influente do Brasil em 2023, segundo a pesquisa Most Influential Celebrities.
Você se denomina como uma “poupadora profissional” desde cedo. Fale sobre o que você fazia na infância e adolescência para poupar dinheiro.
Nathalia Arcuri: Eu poupo desde os 7 anos, quando decidi que, aos 18, iria comprar meu carro sozinha. Depois disso passei a guardar a maior parte do dinheiro que meu pai me dava para lanches na escola. Passei também a pedir dinheiro de presente no lugar de brinquedos que iria ganhar nas datas comemorativas como aniversário, Dia das Crianças e Natal – a gente só ganhava presente nessas datas mesmo. Aos 15, fui fazer pulseira de miçanga e camisetas tie-dye com o objetivo de acelerar as coisas. Depois parti para as aulas de teatro pensando em fazer propagandas. E foi assim que, com 18 anos, tinha o valor para comprar meu carro e um senso de educação financeira bastante desenvolvido.
Você sempre confiou que o “Me Poupe!” faria sucesso, mesmo debatendo sobre economia e finanças, assuntos que são de difícil compreensão?
Nathalia: Minha ideia era passar a educação financeira para as pessoas de uma forma divertida para que elas conseguissem absorver facilmente. Eu via pessoas à minha volta se enfiarem em dívidas muito maiores do que o que ganhavam, apenas para ter algo da moda ou de um estilo de vida que não condizia com seus ganhos. Isso me levou a refletir o quanto as pessoas são influenciadas a ter mais, mesmo sem poder pagar por isso. Fui estudar e me aprofundar nesses temas, porque queria que toda mulher tivesse a liberdade de tomar suas próprias decisões, sem depender de ninguém.
Os fãs do canal costumam pedir conselhos financeiros?
Nathalia: Geralmente as pessoas perguntam onde investir, querem conselhos e orientações sobre investimentos seguros. Ou simplesmente vêm agradecer o que aprenderam com os conteúdos que a Me Poupe! compartilha de graça no canal. Já aconteceu de ex-alunos me pararem na rua contando que chegaram ao primeiro milhão, mudaram de cidade, conquistaram sonhos… é muito gratificante. Para quem pede conselhos, minha resposta é sempre a mesma: depende. Cada um tem o seu objetivo, suas metas, “metinhas” e “metonas” e só depois de avaliar cada uma delas é possível decidir os melhores investimentos, como montar a carteira.
Dados apontam que 71,95 milhões de brasileiros estão inadimplentes. Quais dicas você dá para as pessoas saírem dessa situação?
Nathalia: Estamos passando por um momento bastante delicado e esses números mostram isso. Tem muita gente sem renda ou com renda que mal dá para comprar o básico. A dica que eu dou para sair de dívidas é equilibrar um plano de quitação com estratégias de aumento gradual ou pontual de renda: coloque tudo no papel! Não tenha medo das dívidas, de conhecer cada uma delas a fundo, saber o quanto cobram de juros, o prazo e as condições em caso de atraso e em caso de quitação. Além disso, é importante avaliar maneiras de aumentar a renda, seja através da venda de um bem, trabalho temporário, vendas, etc. Só assim é possível traçar um plano de verdade, que possibilite a saída dessa situação mesmo que seja aos pouquinhos, trocando uma dívida com mais juros por outra com uma taxa menor, que tenha um prazo ou um valor menor mensal para pagar. Acredite, é possível!
Quais são os hábitos que mais sabotam a vida financeira das pessoas?
Nathalia: Estamos caminhando a passos lentos. As pessoas ainda estão aprendendo a lidar com o dinheiro, a mudar hábitos. Muita gente entra em dívidas, parcela compras de itens que não são realmente necessários naquele momento, um celular mais caro, um carro mais moderno, até eletrodomésticos que poderiam ser uma compra mais programada, planejada, entram como vilões quando comprometem o orçamento familiar com parcelas a perder de vista.
É muito difícil equilibrar a necessidade de desfrutar da vida com a importância de economizar?
Nathalia: Na psicologia econômica, minha área de maior interesse e da qual sou entusiasta, a gente aprende que nós, seres humanos, fomos feitos para pensar no curto prazo. Não é natural para o ser humano priorizar o futuro e por isso o esforço de poupar é tão grande. Mas se você conhecer bem as suas metas a curto, médio e longo prazo as coisas ficam mais fáceis. Dessa forma, fica mais fácil “carimbar” o dinheiro (expressão para definir objetivos) e dividir mensalmente os investimentos para cada uma dessas necessidades. É possível realizar tudo, desde que a pessoa se planeje para isso.
Qual a melhor estratégia para quem quer começar a investir o próprio dinheiro em 2024?
Nathalia: Faça disso um hábito, ainda que você comece com muito pouco, como R$10 por mês. Investir é hábito, é constância. Depois de traçar as metas, conhecer os valores e prazos para realizar cada uma delas, é a hora de buscar bons investimentos, que se encaixem em cada uma das metas e façam o dinheiro trabalhar para você. Hoje tem diversos investimentos bastante acessíveis como o Tesouro Direto, que facilita a entrada de pessoas comuns no mundo dos investimentos, garantindo rentabilidade e segurança semelhantes às das grandes fortunas.
Quais são os planos para a “Me Poupe!” no futuro?
Nathalia: O meu sonho para a Me Poupe! é fazer nosso conteúdo e conhecimento chegarem ao maior número de pessoas possíveis. Fazer com que o poder do dinheiro esteja na mão das pessoas. Nosso plano é trabalhar para escalar cada vez mais os resultados dos nossos produtos para que mais pessoas tenham acesso a eles. Queremos também trazer novas vozes para agregar aos conteúdos que produzimos, além de disponibilizar uma plataforma de streaming com cursos acessíveis e para todos os níveis de conhecimento. Outra frente da Me Poupe! é o aplicativo com inteligência artificial para ajudar o público a investir.