Definitivamente, o gin caiu no gosto do brasileiro. Antes destinado a um público minoritário em nosso país, a bebida tem ganhado popularidade e está sempre presente em cardápios de bares e restaurantes, além das reuniões de amigos. No entanto, o Brasil agora tem ganhado destaque como produtor da bebida, que tem qualidade reconhecida e com o “sabor brasileiro”, recebendo a aprovação deste exigente público.
Uma prova da capacidade do gin brasileiro são as premiações conquistadas em importantes concursos no exterior, com destaque para o New World Navy, da BEG Destilaria, premiado com o Grand Gold no Spirits Selection by Concours Mondial de Bruxelles, em 2019, e o artesanal Amázzoni Gin, da cidade fluminense de Barra Mansa, eleito no World Gin Awards como o melhor gin do mundo em 2021.
Também premiado no World Gin Awards como o melhor London Dry Gin brasileiro em 2021, o gin Lassaleti, de Pouso Alegre, sul de Minas Gerais, foi criado em 2020 pelos amigos Luiz Filipe Leite e Iago Ferrão. O pontapé inicial partiu de Luiz Felipe, que resolveu fazer um curso para se aprofundar na produção de bebidas. Designer, Iago surgiu em seguida, para desenvolver aspectos da identidade visual da marca, como rótulo e modelo da garrafa.
Luiz Filipe explica que o Brasil oferece uma diversidade de botânicos e especiarias que possibilitam a criação de várias receitas com aromas e sabores únicos. “A receita de gin tem sua prevalência de sabor no zimbro, porém podemos utilizar de diversos botânicos para que a brasilidade esteja presente na bebida. No caso do Lassaleti, escolhemos dois ingredientes que fazem o perfeito equilíbrio na degustação e em drinques-, a pitanga e o pacová”, diz.
Ainda de acordo com o proprietário da Lassaleti, fatores como a utilização de bons ingredientes e a qualidade do processo seletivo são a maneira correta da bebida nacional atingir uma qualidade do mesmo patamar de países que são referência na produção da bebida. “O caminho é continuar utilizando todos insumos e matérias-primas que nosso país fornece, buscando os melhores padrões de produção”, ressalta Luiz Filipe. “O mercado do gin no Brasil está apenas começando e surgirão diversas marcas, assim como houve o boom das cervejas artesanais”, prevê.
Gin de cana-de-açúcar
Dar uma cara mais brasileira para a bebida tem sido a intenção dos novos produtores. Um exemplo é o Trevo Raro, produzido a partir da cana-de-açúcar, em um alambique em Itaverava, Minas Gerais. Criado em 2021 pelas sócias Jeane Resende, Flávia Amorim e Thaís Freitas, a ideia, desde o início, era fazer algo diferente, o que foi muito bem absorvido pelo ainda iniciante mercado de gin nacional.
“Vimos que, no Brasil, se bebe de uma maneira diferente. Enquanto na Europa se bebe o gin puro, com água tônica ou água com gás, no Brasil se faz uma ‘caipirinha de gin’, nessa vibe brasileira de misturar frutas, xaropes, energéticos e tudo mais. E aí pensamos: será que existe gin de cana-de-açúcar? Será que existe um gin brasileiro que não seja parecido com os londrinos, principalmente?”, relembra Jeane.
Para chegar ao produto final, as três contrataram uma bioquímica, que desenvolveu mais de 30 fórmulas. A cana-de-açúcar foi escolhida por trazer a autenticidade e originalidade buscada pelas amigas. A fórmula, ainda, leva a laranja-bahia, produto 100% nacional. “Os gins internacionais usam botânicos mais neutros, e nós queríamos dar aquele gostinho brasileiro de drinque. O que diferencia ele dos outros é justamente a possibilidade de criar vários tipos de drinques”, explica.
Além da novidade do uso da cana-de-açúcar na fabricação, as três colocam uma visão feminina sobre a maneira de empreender em um território “masculino” como o ramo de bebidas alcoólicas. “Até brincamos que, antes de fazermos o gin, nos chamavam de cachaceira, mas eramos só consumidoras. O que queremos mostrar é isso, que podemos sentar em uma mesa de bar, fazer uma reunião regada a drinques e bebidas, que isso não desvaloriza uma mulher. O ser humano é igual, independentemente de gênero, cor e classe social”, afirma Jeane.
3 gins brasileiros para conhecer
- Amázzoni: Gin clássico que leva na sua composição botânicos como zimbro, louro, limão, coentro, mexerica, castanha-do-pará, entre outros. Popular entre os bartenders por sua versatilidade.
Valor médio: R$ 99 - Virga: Produzido em Pirassununga (SP), também utiliza a cana-de-açúcar em sua composição, além de ingredientes como zimbro, coentro e pacová, e algumas doses estratégicas de cachaça.
Valor médio: R$ 99 - Sapucaia Butterfly: Naturalmente azul devido ao acréscimo da flor clitoria ternatea, este gin também é de Pirassununga. Ao estilo London Dry, a bebida leva botânicos e é considerada muito equilibrada.
Valor médio: R$ 110
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