“The Last of Us” é o momento (e com razão!). Aclamada pela crítica e pelo público, a série teve uma enorme recepção positiva por sua produção de altíssimo nível. E não apenas os fãs do jogo de videogame têm se identificado com a narrativa, que se expandiu para diversos públicos. Inclusive, o sucesso do seriado foi tanto que, antes mesmo do fim da primeira temporada, a HBO confirmou uma segunda leva de capítulos – ainda sem data de lançamento.
Cocriada por Craig Mazin e Neil Druckmann (criador e roteirista da premiada franquia de videogames e copresidente da Naughty Dog), a série traz os holofotes para uma pauta muito discutida nos últimos anos: as adaptações de games para filmes ou séries de TV. De fato, recentemente, esse tipo de produção ganhou um novo fôlego com a chegada dos streamings, que apostaram em resgatar as narrativas de amadas franquias.
Para os próximos anos, há, em média, vinte produções (para cinema e TV) em desenvolvimento e que serão adaptadas de games dos mais diversos gêneros. Mas, por conta do passado das adaptações, a desconfiança por parte do público ainda é muito grande – mesmo com o sucesso absoluto de “The Last of Us”.
Interesse nas adaptações de games para filmes
Alvaro Luiz Hattnher, professor de “Estudos da Adaptação” na UNESP de São José do Rio Preto, explica sobre o interesse em resgatar os games e transformá-los em novos projetos: “Se você tem um jogo que é bem-sucedido comercialmente, ele naturalmente se torna um atrativo para aparecer em outras plataformas, que chamo de ‘arquiteturas textuais’. Vai ser legal se ele virar filme, desenho animado, quadrinhos ou até novelizações”.
“Por outro lado, [essas adaptações] encontram o terreno fértil naquilo que chamo de ‘fome de narrativa’. As pessoas querem as histórias, querem mais histórias e, muitas vezes, querem mais das mesmas histórias. […] Quantos filmes ou narrativas são, em certa medida, repetições temáticas de coisas que já vimos dezenas de vezes?”, questiona o professor.
Rejeição do público
A grande maioria das adaptações de games para cinema e/ou séries de TV foi massacrada pelo público. Mesmo que as críticas sejam (muito) pertinentes em grande parte dos casos, Alvaro Luiz Hattnher alerta para uma questão muito importante acerca desse tipo de produção.
“As pessoas tendem a olhar a adaptação com os mesmos olhos que elas olham para o texto adaptado, denominação que a gente usa em ‘Estudos da Adaptação’ para falar do [título] original. Videogame é um texto adaptado e o filme é a adaptação, e não dá para comparar [os dois], porque são suportes diferentes”, argumenta.
Uma preocupação para quem faz um filme ou uma série, é fazer uma adaptação que seja boa para quem joga e para quem não conhece o jogo. A construção do roteiro tem que buscar essa convergência”
Alvaro Luiz Hattnher, professor de “Estudos da Adaptação”
O professor acrescenta: “[…] Você tem que olhar como quem olha para o filme e para as regras constitutivas formais do filme: Como ele foi feito? Qual é a estética? […] [Afinal] Você pode ter adaptações que reproduzem o original e outras que são recriações”. Para exemplificar, cita o caso de Resident Evil “na passagem do videogame para o cinema”, visto que, embora os filmes tragam referências ao jogo original, eles se tornaram produções independentes.
Vale ressaltar que há uma diferença muito grande entre o formato de videogame e a linguagem cinematográfica. Alvaro Luiz Hattnher reforça que uma das palavras-chave do videogame é “interatividade”. Por isso, é uma experiência diferente em relação às produções cinematográficas, que garantem vivências “contemplativas”. “O cinema, podemos dizer, é como ver alguém jogando”, fala.
Segundo o professor, também há, ainda, uma rejeição “do nível pessoal” ou, às vezes, de grupos/nichos. Isso porque, existe uma “sensação de posse” por parte do público e as pessoas passam a acreditar que o título original é delas. “Isso fica mais acentuado quando você pensa em obras que chamamos de obras canônicas (as clássicas)”, pontua.
Mundo pós-The Last of Us
Seja pelo bom roteiro ou pela ótima produção, “The Last of Us” mostra que qualquer game pode ganhar um bom desdobramento em sua narrativa, conquistando públicos que já estão familiarizados com esse universo ou mesmo quem desconhece a história. “Uma preocupação para quem faz um filme ou uma série, é fazer uma adaptação que seja boa para quem joga e para quem não conhece o jogo. A construção do roteiro tem que buscar essa convergência”, diz Alvaro.
É fato, portanto, que há uma expectativa em relação ao futuro das adaptações de games para filmes e/ou séries. Mas o professor alerta: “As pessoas criam fantasias e expectativas, que chamo de TPA – tensão pré-adaptação. […] E [depois] julgam a adaptação com os olhos do texto adaptado. Isso não funciona e elas sempre vão se decepcionar, porque há uma concepção falaciosa, de que tem que ser fiel ao original. Essa fidelidade que as pessoas querem é impossível, porque são suportes diferentes e fidelidade é um conceito totalizador: é ou não é”.
Por essa razão, como Alvaro Luiz Hattnher indicou, é importante sempre analisar pela perspectiva das diferentes plataformas de publicação de uma determinada obra – games são games, filmes são filmes e séries são séries.
Boas adaptações para assistir
Confira alguns filmes e séries baseados em jogos que foram bem-recebidos pelo público:
- Warcraft (2016)
- Detetive Pikachu (2019)
- The Witcher: A Lenda do Lobo (2021)
- Uncharted: Fora do Mapa (2022)
- The Last of Us (2023)
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