O agronejo se consolidou como um dos estilos musicais mais queridos dos brasileiros, com Ana Castela, Luan Pereira e Us Agroboy como grandes representantes do gênero
Toca o berrante que a boiadeira chegou! É raro encontrar algum brasileiro que ainda não conheça a jovem Ana Castela ou que não tenha ouvido o hit “Pipoco” pelo menos uma vez na vida. Com enorme sucesso pelo Brasil, atualmente, a cantora é a artista mais ouvida do país no Spotify e no YouTube Music, segundo os números divulgados até a publicação desta matéria. A jovem lidera, junto de Luan Pereira, Agroboy, entre outros nomes, a crescente de uma nova vertente do sertanejo: o agronejo.
Nesses últimos anos, o Brasil presenciou a origem desse novo gênero “country”, que aposta na combinação da música sertaneja com diferentes estilos e batidas contemporâneas, especialmente o funk e o trap. A aceitação desse “subgênero” foi enorme no país, e o estilo parece ter agradado aos mais diversos públicos – seja pela versatilidade ou pela identificação com a estética. E os números das plataformas de streaming apenas comprovam a grandeza e o consumo do agronejo atualmente.
“Acredito que o agronejo acrescenta e soma demais. É agregador no sertanejo, pois capta um novo público que não estava acostumado a escutar música sertaneja e como o agronejo se identificou com as batidas e o palavreado que usamos. Hoje, vemos muita gente no show do Us Agroboy de bota e chapéu, influenciado por essa galera”, fala Jota Lennon, d’Us Agroboy.
Da sofrência às mais românticas, o agronejo não “abandona” as marcas registradas da sua principal referência. No entanto, assim como o sertanejo universitário, traz novas particularidades ao gênero conhecido como “raiz”. Por isso, acaba se desprendendo do sertanejo mais “tradicional” com muita criatividade e originalidade, embora sempre faça um aceno ao estilo.
Segundo Luan Pereira, “o agronejo é 100% diferente do que as pessoas estavam acostumadas a ouvir. Ou era só sertanejo, funk, ou eletrônico. O agronejo veio aí para arrebentar com tudo e graças ao bom Deus com uniões maravilhosas. A união move tudo, sozinho a gente não consegue nada. Sempre gosto de deixar isso muito claro, que sozinho a gente não consegue nada nessa vida. São vários gêneros e vários estilos dando a oportunidade de colocar a mente criativa para funcionar. O combo perfeito [para fazer o agronejo] é você ter o amor, ter a missão de que a música entre no ouvido das pessoas, independente do gênero, independente da idade, abraçando todo o sonho como nós do agronejo”.
O sucesso de Ana Castela trouxe os holofotes para esse estilo e para outros importantes representantes do gênero, como Luan Pereira, Us Agroboy, Léo & Raphael, DJ Chris no Beat, M4Uz, entre outros. Mas vale lembrar que os artistas sertanejos (ou de outros estilos) também se jogam nessa estética musical e lançam canções que são inspiradas nessa nova faceta.
“Somos um time, vários artistas representando o cenário agro, o que é muito importante. Sinto que o público tem recebido muito bem não só as minhas músicas, e sim todas que fazem parte desse movimento que cresce cada vez mais”, fala Ana Castela.
Gabriel Vittor, d’Us Agroboy, afirma: “O agronejo também está se consolidando aos poucos. É um som que no início era bastante regional e atualmente grande parte do Brasil já conhece o gênero e escuta também. Acho que a tendência é só a evolução musical, tudo vai modernizando e evoluindo e vejo como um subgênero musical que está ganhando muito espaço”.
Mais que um gênero: agronejo é uma identidade
O agronejo, porém, vai além das batidas originais e dançantes. Ele também traz uma representação da estética agro em suas letras. Exemplo disso é o verso de Ana Castela em “Carinha de Bebê”, feat com Pedro Sampaio: “De galão, chapelão, caminhonete suja de poeira. É o chamado das boiadeira”. Mas não é a única canção.
Ana Castela também aborda muito sobre a presença das mulheres no agro. “É muito legal ver o quanto as mulheres estão se inspirando, vejo desde crianças até senhoras se orgulhando em vestir chapéu e bota, trabalhando na roça com orgulho. Fico feliz em saber que a minha música tem inspirado gerações”, conta a cantora.
São muito presentes as líricas com referências ao universo “country”, que reforçam o orgulho da “roça” e da “fazenda” e falam sobre as características que constituem uma identidade estética do agro. Há uma autoafirmação e um orgulho de fazer parte dessa realidade. É uma nova cara dada ao setor do agro no Brasil por meio da música.
Os termos e as palavras que são utilizadas nas canções buscam representar essa identidade. Não à toa, Ana Castela ficou nacionalmente conhecida por seu apelido “Boiadeira”. Outro caso é a dupla Us (Lê-se como “os”) Agroboy, que também é lembrada por seu nome artístico, que já é uma referência direta ao universo agro.
Mas não só. O chapéu virou uma febre, assim como a fivela. Além de aparecerem nas canções, são itens sempre utilizados pelos representantes do agronejo e reafirmam a identidade. “Minha vida toda foi na roça. Cresci cuidando dos animais, tocando gado com a minha família. Essa é uma das coisas que mais sinto falta e que me fazem feliz, é sobre isso que canto nas minhas músicas. Essa sou eu, minha verdadeira essência é essa, estar na fazenda, fazendo o que amo”, conclui Ana Castela.
Conheça o Fazendinha Sessions
“Fazendinha Sessions” é um projeto criado por Ana Castela, Us Agroboy e Luan Pereira, que valoriza o agronejo. Os artistas recebem convidados para essas sessões inéditas em conjunto.
“Criei o projeto do Fazendinha Sessions, que está captando novos públicos para o sertanejo por essa forma diferente de colocar batida, de linguagem, e trazendo artistas que são de outros gêneros musicais para participarem de músicas com a gente. É essa parada de fazer a união, fazer um som que seja gostoso de escutar”, afirma Jota Lennon, d’Us Agroboy.
O projeto funciona de modo semelhante ao “poesia acústica”, mas com foco na música sertaneja, e cada artista canta seu verso nessas versões exclusivas. Acompanhe pelo YouTube: Fazendinha Sessions.
“[O projeto] é mais um exemplo de união. […] A galera não sabe que precisa ouvir o Fazendinha até ouvir o Fazendinha e ver que a união [de diferentes gêneros] é maravilhosa demais”, explica Luan Pereira.
O agronejo em alta
Na última semana do mês de agosto, o desempenho do agronejo continuava significativo. No Spotify, os artistas estavam nas seguintes posições do ranking dos mais ouvidos no país:
1º lugar: Ana Castela
16º lugar: Luan Pereira
77º lugar: Agroplay
105º lugar: DJ Chris no Beat
195º lugar: US Agroboy