Grande nome da cena atual da música brasileira, os Gilsons celebram um ano do disco de estreia, “Pra Gente Acordar”, passando por diversas cidades do Brasil
De modo sensível e potente, os Gilsons sabem como se conectar com os brasileiros a partir de suas músicas identitárias e com sonoridades envolventes. O trio formado pelo filho de Gilberto Gil, José Gil, e pelos netos do músico, Francisco e João Gil, conquista seu espaço na cena musical desde o lançamento do EP “Várias Queixas”, compartilhado em novembro de 2019.
Apesar da pandemia, o grupo foi se consolidando e alcançando números expressivos nas plataformas digitais, principalmente graças ao sucesso da música “Várias Queixas”. Com as canções acolhedoras e intimistas, o trio se transformou em uma espécie de acalanto durante os tempos conturbados devido à Covid-19.
Em meio a esse período pandêmico, os integrantes também passaram a criar o disco de estreia da carreira, “Pra Gente Acordar”, que chegou ao público em fevereiro de 2022. De lá para cá, os Gilsons subiram aos palcos de diversos lugares do Brasil – com direito a apresentações no Rock in Rio (2022) e Lollapalooza (2023). Vale lembrar que, em 3 de junho, o trio faz um show na 20ª edição do João Rock, em Ribeirão Preto. Para saber mais sobre a agenda do grupo, basta acompanhar o Instagram oficial da banda: @gilsonsoficial.
Em entrevista exclusiva à Voepass, José, João e Francisco Gil falam sobre o disco “Pra Gente Acordar”, as experiências com Gilberto Gil, os shows pelas cidades brasileiras e mais. Confira:
EM 2023, “PRA GENTE ACORDAR” FEZ UM ANO. QUAL FOI O PROCESSO DE COMPOSIÇÃO E CRIAÇÃO DELE?
JOSÉ: O processo de criação do disco “Pra Gente Acordar” foi muito natural. Na verdade, o álbum é uma afinação da sonoridade que a gente vinha construindo desde o EP ‘Várias Queixas’, com o resgate aos tradicionais tambores afro-baianos, além do violão de nylon muito presente, e o trompete muito marcante também. Nesse universo, construímos o disco.
No nosso processo criativo, as canções surgem antes dos próprios arranjos, e, depois, vamos para a construção dos beats. A criação é muito colaborativa, e eu estou capitaneando cada vez mais as produções, o que é muito legal também. Esse encontro dos elementos tradicionais com os beats eletrônicos e a modernidade é o Gilsons. Essa mistura toda que nós somos [resultou] no “Pra Gente Acordar”, nosso primeiro disco.
TEM ALGUMA CANÇÃO DE “PRA GENTE ACORDAR” QUE, AO LONGO DE TODO ESSE TEMPO DESDE O LANÇAMENTO, DIALOGOU MAIS COM A BANDA POR TER GANHADO ALGUM NOVO SIGNIFICADO?
JOSÉ: Acho que “Pra Gente Acordar” [faixa-título], que foi composta pelo
Fran e pela Júlia e foi feita antes da pandemia, ganha um novo significado. Ela ganha uma nova força, sendo uma mensagem de esperança. E não só depois da pandemia, mas também de todo o momento político que a gente vivia. Tudo isso junto faz “Pra Gente Acordar” ter uma força muito grande e ter um significado muito maior agora. É muito bacana quando a vida dá significado para as coisas.
“Proposta” também acaba sendo [especial], porque é uma música que fiz com a minha mulher, Mariá Pinkusfeld, em parceria com Léo Mucuri. Ela fala sobre “misturar a nossa cor na vida que brotar de nós”. E, hoje, temos duas menininhas, Pina e Roma, que são gêmeas e são incríveis. Elas são realmente nossas misturas, uma é a cara de cada um de nós dois.
Outras músicas que falam da nossa intimidade e do nosso interior [pensando sobre o momento da pandemia] ganham maiores significados. Nosso disco é pós-pandêmico, mas nossas músicas foram muito consumidas na pandemia; e estar junto com as pessoas, estar na casa das pessoas nesse momento, com a música sendo um apoio para elas, foi muito legal e importante para nós.
POR QUE VOCÊS OPTARAM PELO FILME DO DISCO “PRA GENTE ACORDAR”?
FRAN: Esse processo foi uma construção que viemos fazendo desde o lançamento do clipe de “Várias Queixas”, uma parceria com Pedro Alvarenga, diretor que fez todos os nossos clipes. Essa é uma parceria em que produzo os clipes e o Pedro dirige, e vamos construindo todas as narrativas juntos, mas os roteiros são do Pedro.
O filme “Pra Gente Acordar” é um pouco do que a gente queria trazer sobre o aspecto visual do álbum, ou
seja, é como se fosse o disco realmente traduzido para o âmbito visual. E acho que fomos felizes nisso. Com esse filme, conseguimos conquistar prêmios e abrir mais portas no universo do cinema e dos videoclipes. E isso foi muito importante para nós.
COMO VOCÊS SENTEM QUE O PRIMEIRO DISCO SE ASSEMELHA E/OU SE DIFERENCIA DO EP, VÁRIAS QUEIXAS?
JOSÉ: Eles têm semelhanças, mas também têm diferenças. A semelhança é manter essa identidade do violão, das percussões e do trompete. Mas, no EP, as canções são um pouco mais simples no sentido de camadas. No disco, exploramos mais camadas e mais texturas, trouxemos mais presença de guitarra e de teclados, além de mais arranjos. Para a criação, ficamos dez dias imersos em Araras, em um sítio que a gente tem. Lá, criamos, subimos as bases, e fizemos os processos criativos de voz e de instrumentação. No disco, a gente entregou mais esse lado de paciência para fazer arranjos. O EP traz uma coisa mais crua, mais nossa e com menos elementos. Mas o EP e o disco se encontram totalmente nesse lugar da mistura do tradicional com moderno, e do resgate dos tambores e do violão de nylon.
A DISCOGRAFIA PARECE FAZER UM ACENO SENSÍVEL AOS TRABALHOS DO GILBERTO GIL. VOCÊS ACREDITAM QUE É UM MOVIMENTO INCONSCIENTE OU ESSES PROJETOS DO GIL SÃO BUSCADOS PARA UMA REFERÊNCIA MAIS DIRETA?
JOSÉ: A influência do meu pai e avô dos meninos no nosso trabalho é inevitável e talvez inconsciente. Ele é a grande influência que a gente tem na nossa vida, não só na música, como em visão de mundo e estilo de vida também. Mas a gente tem muitas influências fortes para além dele e que compõem nossa musicalidade e estão presentes no Gilsons.
Meu pai sempre respeitou muito a individualidade e a musicalidade de cada um – na música e na vida. Essa soma do gosto musical de nós três dá a mistura do Gilsons, que tem muito do rock and roll, da música brasileira, da MPB, da Bossa Nova, do samba; e também tem muito do afoxé e das músicas dos blocos afros. As influências transcendem o seu Gilberto, mas ele é, com certeza, uma forte influência para nós.
VOCÊS JÁ FIZERAM SHOWS JUNTO AO GIL. COMO É A EXPERIÊNCIA DE DIVIDIR O PALCO COM ELE?
JOÃO: Dividir o palco com o seu Gilberto é sempre um grande aprendizado. Ele é uma grande referência não só artística, mas de como se portar no trabalho e de como levar o trabalho a sério. […] Estar nesse mesmo ambiente, e poder aprender e absorver o que a gente pode com ele é sempre um grande aprendizado e uma grande alegria. Como somos fãs da música dele, tocá-la é sempre uma realização. Mas acho que a alegria é maior ainda quando ele se junta ao projeto Gilsons, e a gente consegue, pelo nosso trabalho, trazer ele para perto.
“PRA GENTE ACORDAR” FOI LANÇADO HÁ MAIS DE UM ANO. QUAL É O SENTIMENTO DE VOCÊS EM RELAÇÃO AO DISCO ATUALMENTE? O QUE VOCÊS SENTEM QUE MUDOU DO LANÇAMENTO ATÉ AGORA?
JOÃO: Ao olhar o álbum depois de um ano, conseguimos enxergar ele com outros olhos. Quando a gente lança um trabalho, tem toda aquela pressão de ter trabalhado nele durante vários meses. É um processo que não é rápido, a gente vai trabalhando nas músicas e nos arranjos. Então quando lançamos, rola aquela ansiedade: ‘será que as pessoas vão gostar? Será que vai fazer sentido junto com o que a gente já tinha feito?’ Mas, agora, depois de um ano, acho que, pelo menos eu, consigo enxergar esse lugar de dever cumprido. A gente entregou aquilo que a gente acreditava. E fico muito feliz por tudo que o disco gerou.
[Apesar] de ter sido indicado para premiações e ter dado frutos em relação a visualizações em plataformas, é com a aceitação do público que a gente fica mais feliz e com como o disco fez sentido, agregou, somou e se transformou para o nosso público.
ATUALMENTE, VOCÊS TÊM FEITO GRANDES SHOWS, E PARTICIPARAM DO ROCK IN RIO E DO LOLLA MAIS RECENTEMENTE. COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE SE APRESENTAR EM DOIS DOS MAIORES FESTIVAIS DO BRASIL?
JOÃO: É uma grande realização estar tocando nesses festivais. Temos noção da visibilidade que esses palcos trazem e do quão importante e significativo é estar neles. Para a gente, foram grandes marcos não só pela turnê do “Pra Gente Acordar”, mas para a nossa carreira como banda. Só fica aquele sentimento de ‘poxa’, porque os shows são mais curtos, então não conseguimos mostrar tudo que a gente gostaria de mostrar. Mas é uma alegria incrível.
O QUE VOCÊS ENXERGAM PARA O FUTURO DE GILSONS?
FRAN: Na verdade, estamos começando a viver um pouco do que a gente imaginava para o nosso futuro. Lançamos o disco do “Pra Gente Acordar” em 2 de fevereiro de 2022, e a gente conseguiu passar todo esse tempo sem lançar mais nada. E isso foi maravilhoso, porque a gente pôde acreditar no disco e insistir nele. Até hoje, ele segue um caminho de expansão. Cada vez mais, as pessoas estão escutando o disco, e a curva de ouvintes nas plataformas só sobe. Nos shows, as pessoas estão cantando cada vez mais. E eu acho importante você acreditar no álbum, insistir nele, trabalhar ele, rodar com a turnê, e tocar nesses festivais como a gente fez, levando esse disco.
Começamos a viver o futuro com o lançamento em parceria com BaianaSystem e Tropkillaz [a música “Presente”], que leva a nossa sonoridade para outro lugar. E, daqui a pouco, a gente chega com outro lançamento, que representa também um pouco desse universo que estamos começando a construir
neste novo momento. Esse ano vai ser um ano que vão ter muitas parcerias. No disco “Pra Gente Acordar” e no EP, “Várias Queixas”, não temos feats, mas todos os outros singles que lançamos são parcerias. E a gente está seguindo um pouco desse lance [de feats] e se jogando. Tem coisa boa por vir!