Não há como falar de televisão brasileira sem falar das novelas. Ao longo dos anos, várias histórias marcaram a nossa dramaturgia. Mas uma classe de personagens que certamente se destacam nessas produções são os vilões. Se você navega nas redes sociais, já deve ter se deparado com memes e cenas marcantes da Carminha (Adriana Esteves) em “Avenida Brasil” ou da Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) em “Senhora do Destino”. O público ama odiar esses personagens e o ator Vladimir Brichta é quem agora vive essa experiência.
A novela “Renascer”, exibida na Rede Globo, é um remake de uma produção de 1993. Na trama, Vladimir Brichta vive o temido e influente Coronel Egídio, principal rival do protagonista José Inocêncio (Marcos Palmeira). Essa é a primeira vez que o ator vive o principal vilão de uma novela.
Em conversa com a Revista de bordo da Voepass, ele falou sobre o seu personagem em “Renascer” e também da sua participação na nova série da Netflix: “Pedaço de Mim”.
Como surgiu o seu interesse pela atuação?
Vladimir Brichta: Meu interesse pela atuação surgiu quando eu era muito novo ainda, com 4 anos de idade, morando na Alemanha, tendo acesso à vários artistas que se apresentavam na escola. Aquilo me encantou. Minha mãe contava que eu trocava o meu nome, sempre incorporando o nome do artista da semana ao meu próprio nome. Não demorou muito, com 6 anos de idade, na minha escola de Salvador, eu participei de um grupo de teatro e fiquei durante seis anos, em um grupo chamado “Grupo Fantasia”. Isso me deu vontade de fazer aquilo de forma mais séria.
Você atua em produções televisivas há pelo menos duas décadas. O que você tem notado de evolução nas produções de hoje?
Vladimir: Eu comecei a fazer televisão há 23 anos, na novela “Porto dos Milagres”, e de lá pra cá, a principal mudança foi técnica. A tecnologia hoje é completamente diferente. Hoje o equipamento que utilizamos para filmar novelas é o mesmo que se usa no cinema, tanto aqui quanto lá fora. A gente percebe também que a linguagem se aproxima mais da linguagem de séries e filmes, fazendo as tramas andarem mais rápido. Hoje o público assiste mais atento à televisão, antigamente a novela tinha que ser feita de forma que as pessoas entendessem mesmo estando de costas para a tela. A gente também percebe hoje uma velocidade um pouco menos acelerada nas gravações, com um volume menor de cenas.
Como você se sentiu ao ser convidado para fazer o principal vilão da novela das 9h?
Vladimir: Quando eu fui convidado para fazer o personagem Egídio em “Renascer” eu fiquei muito feliz e encantado de fazer um remake de uma novela muito marcante na história da televisão e na minha própria história. Fiquei animado pelo fato da novela se passar na Bahia, onde eu poderia usar o meu sotaque, trazer um pouco da minha vivência na região e fazer o vilão, que não é qualquer coisa. É o personagem que conduz muito da trama, gera fascínio no telespectador, ao mesmo tempo que gera uma ira. E eu ainda não tinha feito um grande vilão. Então ocupar esse espaço foi novo e teve um certo frescor, sendo muito bacana exercitar aquilo, de poder dizer determinados absurdos e fazer a trama andar, além da oportunidade de me ver e do público me ver nesse lugar diferente.
Pelo fato da novela “Renascer” ser um remake, você buscou algum tipo de inspiração na obra original?
Vladimir: É um remake de uma novela que fez muito sucesso e foi muito marcante no período em que foi feita. Só que eu não lembrava tanto da novela, porque no mesmo período eu fazia um curso profissionalizante à noite, então eu não assistia muito, apenas de sábado. Mas eu e meus colegas de teatro falávamos muito sobre a novela, mesmo sem poder assistir. Eu não lembrava tanto do meu personagem, que no original se chamava Coronel Teodoro e foi feito pelo Herson Capri, e tomei a decisão de não assistir, pois sabíamos que a linguagem hoje seria diferente. Claro que tive o desejo de falar com o Herson Capri, mandei mensagem pra ele dizendo que estava feliz em fazer um personagem que ele tinha defendido, mas sem necessariamente buscar influência. Depois de ter feito as cenas, eu até fui ao Globoplay pra ver como foi feita no original, mas só por curiosidade.
Como você tem sentido a recepção do público em relação à novela e ao seu personagem?
Vladimir: Eu tenho ouvido coisas muito legais sobre a novela e o meu personagem e fico muito feliz por isso. É uma novela que as pessoas gostam, especialmente no Nordeste, porque de alguma forma aquele período áureo do cacau atraía gente do Brasil inteiro, com vários sotaques presentes e isso na novela está muito bem representado. E tem a questão da vilania, então eu tenho ouvido com muita frequência “você é horroroso, estou adorando” ou “você é terrível, o Egídio é péssimo, mas estou adorando o seu trabalho”.
Quais são os principais desafios de viver um vilão em uma estrutura de novela, no qual a história acaba tendo uma duração maior?
Vladimir: A gente precisa saber contar esse personagem de forma que o público goste de acompanhá-lo. Que o público deteste a sua vilania, mas que goste de acompanhá-lo. São 200 capítulos, ele não pode causar uma repulsa a ponto do telespectador não querer assistir. Então eu fiz esse cálculo e persigo essa medida, buscando algum nível de simpatia. Até porque o personagem é um abusador, entre muitos outros crimes. Ele poderia ser mais perverso, mas ele também pode ser aquele tipo que usa de uma simpatia e carisma, em que as pessoas têm dificuldade de perceber que é um abuso ou um assédio à primeira vista. E eu busquei esse caminho.
Recentemente saiu a série “Pedaço de Mim” na Netflix, em que você é um dos protagonistas. Poderia falar um pouco sobre o seu personagem e a trama?
Vladimir: É uma história com um potencial muito grande, porque ela se vale do melodrama. É a história de um casal que tem dois filhos gêmeos de pais diferentes e um deles é por conta de um abuso. O meu personagem, Thomás, e a Liana (Juliana Paes) são um casal, acontece isso e a partir daí tem um desdobramento muito trágico, se valendo do melhor estilo do melodrama, que é a receita de sucesso das novelas, mas condensado em 17 episódios. É uma trama que avança bastante a cada episódio, com todos os episódios filmados em locação. Estou com a expectativa alta de que o público vai gostar e se surpreender.
Existe algum tipo de projeto ou personagem em específico que você ainda deseja trabalhar na sua carreira?
Vladimir: Existem muitos personagens que eu gostaria de fazer e nem são conhecidos. São arquétipos diferentes que estão por vir, que eu vou batalhar por eles na minha carreira. Tem muita coisa a ser feita ainda, muitas histórias para serem contadas e muitos sentimentos para serem investigados.