Grande disco de um dos gêneros musicais mais importantes do Brasil, “A Bossa Nova de Roberto Menescal e Seu Conjunto” completa 60 anos em 2023
Com uma harmonia sofisticada, acordes dissonantes e uma combinação de samba com jazz, a Bossa Nova ganhou o coração dos brasileiros desde que surgiu, no final da década de 1950. Não à toa, mudou o consumo de compras da classe média em relação aos álbuns musicais brasileiros. Segundo dados de Marcos Napolitano, presentes no livro “A síncope das ideias” (2007), “em 1959, apenas 35% dos discos vendidos eram de música brasileira; 10 anos depois, as cifras mudaram e 65% eram pertencentes à música brasileira”.
Além do ritmo inspirado no samba, mas com uma levada mais suave e menos acentuada, esse gênero musical buscava combinar sons tradicionais e modernos. “A nossa música foi influenciada por tudo aquilo que a gente ouvia e gostava muito: o samba, o bolero, o samba-canção e o jazz”, fala Roberto Menescal, considerado um dos expoentes do estilo, no livro “Essa tal de Bossa Nova”.
Na época, as características estilísticas do gênero iam na contramão das músicas do momento – mais densas, pesadas e com temáticas, muitas vezes, melancólicas. Segundo Menescal conta na obra literária, a ideia do estilo era estar mais de acordo com aquilo que eles viviam: “o mar, a praia, a beleza do Rio de Janeiro, os nossos sonhos e planos para uma vida que estava apenas começando”.
A nossa música foi influenciada por tudo aquilo que a gente ouvia e gostava muito: o samba, o bolero, o samba-canção e o jazz”
Roberto Menescal
E a história do gênero se inicia de modo muito informal e natural: uma turma de jovens que queria se reunir e tocar essa proposta musical mais ensolarada. Um dos símbolos do movimento, o violão se tornou um dos principais elementos explorados por esse grupo, o que permitiu uma gama de possibilidades sonoras. Aos poucos, o número de envolvidos nesse processo foi crescendo, e a chegada de João Gilberto foi essencial para dar uma forma mais concisa do que seria a Bossa Nova.
Nomes como João Gilberto, Tom Jobim, Nara Leão, Sylvinha Telles, João Donato, Maysa, Astrud Gilberto, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli e o próprio Roberto Menescal consolidaram, internacionalmente, o gênero musical. Em 21 de novembro de 1962, alguns representantes da turma subiram ao palco do Carnegie Hall, nos Estados Unidos, para levar esse tipo de música para o mundo. Desde então, o estilo foi conquistando seu espaço e se tornando uma grande referência internacional.
A Bossa Nova De Roberto Menescal E Seu Conjunto
Roberto Menescal é, certamente, um dos grandes nomes e um dos expoentes da Bossa Nova. Além de cantor e compositor, ele foi um dos principais produtores musicais do gênero e teve um papel fundamental na difusão do estilo. Com um olhar crítico afinado, que também foi muito importante durante o seu tempo na gravadora Polygram (atualmente Universal Music), o artista participou ativamente da cena musical carioca nos anos 1950 e 1960, apresentando shows e colaborando com outros músicos relevantes do movimento, como João Gilberto, Tom Jobim e Carlos Lyra.
Lançado em 1963, o disco “A Bossa Nova De Roberto Menescal E Seu Conjunto” é um importante marco para o gênero. Isso porque, além de reunir composições de alguns dos nomes mais influentes da história da música brasileira, o álbum apresenta as fantásticas interpretações do músico, acompanhado de seu conjunto. O repertório de canções é composto, ainda, por enormes clássicos, como “Você e Eu” e “Nós e o Mar”.
Inovador e com uma perspectiva muito afinada sobre como fazer música, Menescal trouxe grandes composições em seu disco de 1963. Um dos destaques do álbum, “Balansamba” quase foi ‘abandonada’ pelo compositor por ser bem diferente do que se tinha na época. Também em “Essa tal de Bossa Nova”, ele fala mais sobre a faixa.
“Musicalmente falando, ‘Balansamba’ tem uma divisão de notas totalmente ‘quebrada’, o que não era tão comum na época. Então, quando viram o arranjo, alguns músicos se negaram a gravá-la por acreditarem que estariam contribuindo com a divulgação de uma música que era tecnicamente ‘errada’. Mas, com um pouco de insistência do maestro Carlos Monteiro de Souza (e com os músicos que restaram), conseguimos finalizar a gravação, e ela se tornou a faixa título do álbum do Lucio [Alves]”, conta.
A tracklist de “A Bossa Nova de Roberto Menescal e Seu Conjunto” é grandiosa, e o que não faltam ao longo de todo o disco são clássicos que representam o gênero. Além de ser uma obra incrível para ser contemplada e para entender melhor sobre a Bossa Nova, também desperta memórias e sentimentos relacionados a esse estilo tão agradável e cativante.
Para saber mais
Escrito por Bruna Ramos da Fonte e com contribuições do próprio Roberto Menescal, “Essa tal de Bossa Nova” é um livro certeiro para aqueles que querem se aprofundar nas histórias do estilo brasileiro e, também, para conhecer melhor sobre Menescal e seus discos. Em 2022, a obra ganhou uma nova versão – a edição revista e ampliada -, que foi lançada pela Editora Rocco.
Segundo a sinopse oficial, “com prefácio assinado pelo escritor Paulo Coelho e apresentação do jornalista e escritor Nelson Motta, ‘Essa tal de Bossa Nova’ reúne histórias da música brasileira contadas por Roberto Menescal, um dos criadores da Bossa Nova. O livro é divido em três momentos: o primeiro dedicado às histórias da Bossa Nova, o segundo às histórias da MPB vividas por Menescal no período em que foi Diretor Artístico da PolyGram, e o terceiro, inédito, falando sobre a relação de Raul Seixas e Paulo Coelho com Menescal. […] Nesta edição revista e ampliada, a autora Bruna Fonte mergulha ainda mais profundamente nesse momento ímpar da história e da música brasileira, trazendo outras referências, recomendações e indicações para enriquecer a experiência do leitor”.
Tracklist de “A Bossa Nova de Roberto Menescal e Seu Conjunto”
- 1 Desafinado (Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça)
- 2 Batida Diferente (Durval Ferreira, Mauricio Einhorn)
- 3 Balansamba (Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli)
- 4 O Amor Que Acabou (Frencisco Feitosa, Luiz Fernando Freire)
- 5 Você E Eu (Carlos Lyra, Vinicius de Moraes)
- 6 Samba Torto (Aloysio De Oliveira, Antonio Carlos Jobim)
- 7 Garota De Ipanema (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes)
- 8 Rio (Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli)
- 9 Baiãozinho (Eumir Deodato)
- 10 Dan-Cha-Cha-Cha (Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli)
- 11 Nós E O Mar (Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli)
- 12 Só Danço Samba (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes)