A relação entre cavalo e cavaleiro é excepcional e potencializa o desenvolvimento de várias áreas do indivíduo, incluindo a saúde. Nesta interação entre o ser humano e o animal, tem-se a Equoterapia, um método terapêutico e educacional voltado a pessoas com deficiências (PCD), sejam essas físicas, mentais ou comportamentais.
Vera Horne, psicóloga por formação e diretora do Centro Básico de Equoterapia General Carracho (CBEGC), da ANDE-BRASIL (Associação Nacional de Equitação), explica sobre o método: “Refere-se a todas as práticas e atividades realizadas com a assistência ou parceria dos cavalos, aplicadas por equipes multi e interdisciplinares, com objetivo terapêutico”.
Incentivada pela ANDE, a Lei Federal 13.830/19 é responsável pela regulamentação dessa terapia no Brasil. A prática é constituída por uma interação entre ambiente, cavaleiro, cavalo e equipe — formada por profissionais encarregados pelo paciente e tratamento adequado ao cavalo.
“É um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar na área da saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial. […] Prefiro identificar a Equoterapia como uma clínica ‘extramuros’ pelo fato de ser realizada ao ar livre,
[…] diferentemente da clínica comumente conhecida, que se resume somente a um consultório,” detalha a psicóloga Daniela Duarte Querino.
O ambiente também é um dispositivo fundamental para esse processo. Por ser um tratamento não convencional, ocorre, em geral, em fazendas, haras e sítios — esses espaços precisam garantir fácil locomoção, rampas e banheiros adaptados.
A partir de um diagnóstico ou indicação médica, um planejamento individualizado busca atender às necessidades do paciente. “Para que o praticante possa dar início a esse tipo de terapia, é indispensável a avaliação da equipe devidamente habilitada pela ANDE-Brasil”, reforça Querino, que lembra como os profissionais podem variar conforme as necessidades de cada indivíduo.
Horne acrescenta: “Um dos princípios básicos, estabelecido desde o início das atividades da ANDE-Brasil, é a obrigatoriedade da equipe multiprofissional com a inserção do psicólogo nessa equipe, que ficou definitivamente consolidado, marcando o pioneirismo do Brasil nesse quesito, em nível mundial”.
Dentre os profissionais da área da saúde que podem integrar a equipe interdisciplinar estão psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas e médicos. Da área da educação, pedagogos e professores de educação física são autorizados a participar do tratamento.
Ainda, profissionais da equitação e do trato animal compõem o time para garantir o bem-estar do cavalo. São eles: instrutores de equitação, auxiliares guias, tratadores, veterinários e zootecnistas.
“A ANDE-BRASIL instituiu uma equipe mínima, obrigatória em todos os Centros de Equoterapia que se filiam a ela. Trata-se de um fisioterapeuta, um psicólogo e um profissional de equitação, sendo que todos precisam estar capacitados nos cursos oferecidos pela Associação Nacional,” conta Horne, que lembra as modalidades dos cursos apresentados pela fundação: Curso Básico de Equoterapia e Curso Básico de Equitação para a Equoterapia.
Os praticantes da Equoterapia
Horne especifica os casos que podem aderir ao método terapêutico: “São tratados […] casos de Paralisia Cerebral, autismo de diversos graus (TEA), Síndrome de Down e outras síndromes genéticas, sequelas de acidentes vasculares cerebrais, de traumas, depressão, transtornos comportamentais e evolutivos dos mais diversos, e outros”.
“Nem todas as pessoas podem praticar a equoterapia,” conta Horne, e Querino relembra as contraindicações, que podem ser hérnia de disco, alergia ao pelo do animal, hidrocefalia com válvula, entre outras. A diretora do CBEGC alerta: “Por isso, avaliações, entrevistas e estudos de caso são importantes. Existem casos que são contraindicados e outros que necessitam de cuidados especiais e reavaliações frequentes, para estabelecer se os benefícios estão sendo maiores que os riscos”.
Quais são os benefícios?
Dentre os benefícios do método, destacam-se os físicos, como equilíbrio, postura, coordenação motora, percepção corporal, entre outros; os psicológicos, como humor, autoconfiança, autoestima etc.; e os sociais, como melhoria das interações sociais e comunicação, e desenvolvimento de relações.
De fato, a Equoterapia traz diversos benefícios biopsicossociais. “A importância perpassa os ganhos físicos, cognitivos e mentais. […] O praticante é visto por inteiro,” avalia Daniela Duarte Querino. Ela acrescenta: “Possibilita ao paciente o sentimento de pertencimento, de ser entendido, de encontrar profissionais empáticos que saibam acolher”.
A relevância da Associação Nacional de Equoterapia
Fundada em 1989, a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil) é a pioneira no país, atuando na regulamentação da prática em nível nacional. Inclusive, o conceito “Equoterapia” foi definido pela organização. Vera Horne explica: “A palavra está registrada no INPI como sendo de propriedade da ANDE-BRASIL, para todo e qualquer evento didático ou promocional que se refira ao ensino desta disciplina”.
A Equoterapia e a ANDE-BRASIL são reconhecidas internacionalmente por meio da Federação HETI- Horses in Education and Therapy International, com sede na Irlanda, e é registrada como organização não governamental e filantrópica na Bélgica.
“É um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar na área da saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial.”
– Vera Horne, diretora do CBEGC
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