Durante as várias décadas de sua extensa e produtiva carreira artística, muito mais do que pela sua suposta “fama de mau” – mesmo nome de um de seus primeiros sucessos, composto ao lado do eterno parceiro Roberto Carlos –, Erasmo Carlos foi reconhecido pelo talento que encantou gerações de admiradores.
Ícone da Jovem Guarda, figura primordial do rock n’ roll brasileiro, ator de cinema e reconhecido como uma das figuras mais simpáticas do show business nacional, o Tremendão nos deixou aos 81 anos, em 22 de novembro de 2022, vítima de uma paniculite, entristecendo os fãs que o acompanharam desde o álbum de estreia “A Pescaria” (1965).
Milhões de discos vendidos e inúmeros sucessos
Ao todo, foram 29 álbuns de estúdio e quatro ao vivo, milhões de discos vendidos, participações em festivais de música, seis troféus do Grammy Latino e mais de 700 composições – a maioria delas assinadas com seu “amigo-de-fé” Roberto Carlos.
Da cabeça e do coração do Gigante Gentil, outro de seus apelidos, surgiram clássicos absolutos da música brasileira, como “Emoções”, “Jesus Cristo”, “Detalhes”, “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” e “É Proibido Fumar”. Sua carreira produtiva, representativa e popular o coloca como o 37º maior artista da música brasileira, segundo votação realizada, em outubro de 2008, pela revista Rolling Stone Brasil.
Erasmo Carlos e a Turma da Tijuca
Nascido em 5 de junho de 1941, no Rio de Janeiro, Erasmo Esteves era filho único de Maria Diva Esteves, vindo a conhecer seu pai já adulto, aos 23 anos. Antes da música surgir em sua vida, sua grande paixão de infância era o futebol, em especial o Vasco da Gama, clube do qual era torcedor fanático. Erasmo, inclusive, tentou a carreira de jogador, mas problemas na coluna o impediram de buscar a sorte nos gramados.
Erasmo passou a infância e a adolescência no bairro carioca da Tijuca, onde fez grandes amizades com futuras estrelas da nossa música, em especial Jorge Ben Jor, o “Babulina”, e Tim Maia, o “Tião”, que o ensinou os primeiros acordes no violão. Foi Tim, aliás, que o apresentou a seu futuro parceiro musical, um rapaz vindo de Cachoeiro de Itapemirim, no interior do Espírito Santo. Assim, com Roberto Carlos, o compositor logo descobriu afinidades, como o rock n’ roll e a idolatria por Elvis Presley.
Primeiros passos na carreira
Já nessa época, Erasmo adotou a vestimenta do rock da década de 1950, com calça jeans, camisas de gola alta, costeletas e topete. Foi nesse momento também que ele fez parte do grupo The Snakes, que, entre outras realizações, acompanhou o cantor Cauby Peixoto na gravação de “Rock n’ Roll em Copacabana”, de 1957, e era empresariado pelo produtor artístico e apresentador de TV Carlos Imperial.
Erasmo Carlos na Jovem Guarda e cinema
O nome artístico de Erasmo surgiu como uma homenagem aos dois “Carlos” da sua vida: Roberto e Imperial. Após uma breve participação como vocalista do grupo Renato e Seus Blue Caps, ele dá o pontapé inicial em sua carreira solo com o lançamento do compacto “O Terror dos Namorados”.
Seu sucesso musical fez o artista parar na televisão. Na TV Record, ele se juntou a Wanderléa e Roberto, e, juntos, apresentaram o programa “Jovem Guarda”. Participações como ator de cinema também começaram a ser algo corriqueiro, com a aparição em filmes que tinham o rei como protagonista mesmo fora do universo musical, como a comédia “Os Machões”, que lhe rendeu premiações.
Erasmo Carlos nos anos 1970
Com o passar dos anos e o seu amadurecimento, Erasmo foi se afastando do movimento musical que o catapultou para o estrelato. Álbuns como “Carlos, Erasmo” (1971), “Sonhos e Memórias” (1972) e “Banda dos Contentes” (1976) mostram um cantor e compositor com várias facetas, transitando pelo soul, blues, samba e rock setentista.
Discos como “Mulher” (1981) – do qual participa sua mulher Narinha, falecida em 1995 – e “Amar pra Viver ou Morrer de Amor” (1982) colocaram Erasmo entre os maiores vendedores de discos daquele início de década
Anos 80: o sucesso merecido de Erasmo Carlos
Os álbuns eram cheios de musicalidade e personalidade, porém isso não se refletiu em vendas, precisando do tempo para serem redescobertos como as pérolas musicais que são. Mas a década de 1980 chegou, e o Tremendão apareceu com um projeto ambicioso, chamado de “Erasmo Convida”, e com a participação de nomes como Gal Costa e Caetano Veloso, além de Roberto em “Sentado à Beira do Caminho”.
Discos como “Mulher” (1981) – do qual participa sua mulher Narinha, falecida em 1995 – e “Amar pra Viver ou Morrer de Amor” (1982) colocaram Erasmo entre os maiores vendedores de álbuns musicais daquele início de década. Nesse mesmo momento, sua influência e a da Jovem Guarda no novo rock brasileiro podia ser observada no som de artistas como Léo Jaime e Lulu Santos.
Anos 90 e 2000
Nas décadas seguintes, Erasmo reafirmou seu talento com discos consagrados por crítica e público, como “É Preciso Saber Viver” (1996), “Santa Música” (2004) e “Sexo” (2011). Ele conseguiu até mesmo descolar sua imagem de compositor com a do antigo amigo, fazendo parcerias com artistas de gerações mais recentes, como Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Nando Reis e Roberto Frejat.
“O Futuro Pertence à Jovem Guarda”, seu último trabalho, lançado em fevereiro do ano passado, alcançou prêmios e indicações em listas de melhores discos de 2022. Como em diversos momentos de sua extensa carreira, Erasmo demonstrava estar em grande forma e ser muito mais que o “camarada” do Rei.
A vida de Erasmo em livros e telas
Grande astro da música brasileira desde a década de 1960, Erasmo Carlos teve sua vida e obra analisada em livros e filmes. Um exemplo é a autobiografia “Minha Fama de Mau”, lançada em 2009, em que o próprio cantor conta passagens, até então inéditas, sobre a sua história. A carreira de Erasmo é analisada também em diversos livros, como “Jovem Guarda: em Ritmo de Aventura” (Marcelo Fróes) e “Como Dois e Dois são Cinco” (Pedro Alexandre Sanches).
Baseado na autobiografia e disponível no Globoplay, o filme “Minha Fama de Mau” ganhou os cinemas em 2019, com Chay Suede no papel do cantor. Em 2021, o serviço de streaming do Grupo Globo produziu, ainda, o documentário “Erasmo 80”, no qual é narrada toda a história do Tremendão, com entrevistas e imagens inéditas com o cantor na época da Jovem Guarda.