A cultura popular e a crença religiosa são características fortes de Juazeiro do Norte, cidade mais populosa do interior do Ceará, com seus 278 mil habitantes, e capital regional do Cariri, uma das regiões metropolitanas mais importantes do Nordeste.
Localizado no sul do estado, a quase 500 quilômetros de distância da capital Fortaleza, Juazeiro do Norte é um dos maiores centros religiosos do país, conhecido nacionalmente como a terra do padre Cícero Romão Batista, o “Padim Ciço”, provavelmente o maior símbolo do catolicismo nordestino e figura fundamental no desenvolvimento da cidade.
A história da ocupação da “Metrópole do Cariri” remete ao início do século XIX, quando, no local onde está atualmente Juazeiro do Norte, havia apenas um pequeno povoado, pertencente ao município vizinho do Crato, com trabalhadores rurais que viviam em casas de taipa.
Neste lugar, conhecido como Tabuleiro Grande, um padre chamado Pedro Ribeiro de Carvalho, no ano de 1827, construiu às margens do rio Batateira uma simples capela em homenagem à Nossa Senhora das Dores, até os dias de hoje a padroeira da cidade. Desta passagem, além do início religioso da cidade, sai também o nome de Juazeiro, pois ali havia um frondoso juazeiro, árvore típica do semiárido brasileiro com inúmeros espinhos espalhados em seus ramos tortuosos.
Trilha do Santo Sepulcro
A enorme estátua de padre Cícero, no topo da Colina do Horto, é alcançada pelos romeiros por um caminho com 2,8 quilômetros de distância, com árvores nativas, grandes pedras, estacas de madeiras e frases do próprio sacerdote no trajeto. O local era usado pelo religioso como retiro espiritual e é visto pelos pagadores de promessa como um lugar místico e de “penitência”.
O cenário natural da trilha do Santo Sepulcro tem pedras gigantes, as mais antigas da Chapada do Araripe, que se misturam a capelas, relíquias dos devotos como fitas amarradas nas árvores, cruzeiros, entalhes nas rochas, ex-votos e outros objetos. Não é cobrada nenhum tipo de entrada para a realização da peregrinação na trilha.
Padim Ciço e o turismo religioso
Dificilmente Juazeiro do Norte teria se desenvolvido como grande polo regional caso padre Cícero não tivesse sido convidado para, no Natal de 1871, rezar a tradicional Missa do Galo na pequena vila. Jovem, com ainda 28 anos, ficou sensibilizado pelo lugar, e sua figura carismática e humilde impressionou os moradores, fazendo com que alguns meses depois, o religioso se fixasse de vez como sacerdote da paróquia local.
A partir de então, padre Cícero se transformou em mais que um guia religioso da cidade, mas em uma figura de relevo dentro da política e sociedade local, sendo fundamental em momentos como, por exemplo, na emancipação da cidade, concretizada em 22 de julho de 1911. Com a elevação de Juazeiro do Norte à município, ele foi eleito como o primeiro prefeito da história juazeirense.
Já naquela época, sua fama de santo milagreiro foi importante para atrair novos moradores à região, o que fez Juazeiro do Norte ver o crescimento de sua população e transformação do lugar, com a abertura de novas ruas e a construção de casas, em um momento em que até a economia local era completamente ligada à fé popular.
Um dos lugares mais importantes de turismo religioso no Brasil, Juazeiro do Norte recebe 1,5 milhão de peregrinos e romeiros por ano. O turismo católico impulsiona o comércio local, pois 90% do dinheiro que circula por causa dos romeiros na cidade fica no comércio informal. Santos de madeira e argila, amuletos, réplicas de partes do corpo usadas por pagadores de promessas, fitas, terços, entre outros itens da produção artesanal são os mais procurados.
Como não poderia deixar de ser, os principais pontos turísticos estão ligados a Padim Ciço, sendo o mais famoso a gigantesca estátua de 27 metros de altura do religioso. Localizada no topo da Colina do Horto, onde o líder católico se recolhia em retiro espiritual, a estátua pode ser observada de toda a cidade e a visita ao local é aberta ao público todos os dias da semana.
Também localizado na colina, está o Museu Vivo do Padre Cícero. Neste casarão aberto a visitações apenas de segunda a sexta-feira, os romeiros têm a oportunidade de observar estátuas em tamanho real do religioso e de pessoas de sua convivência em atividades cotidianas como momentos de oração ou durante uma refeição. Neste espaço também é possível observar a exposição de muitos objetos, como roupas e fotografias relacionadas ao sacerdote.
No centro de Juazeiro do Norte, mais exatamente na rua São José, nº 242, está a Casa do Museu Padre Cícero, lugar onde o padre morou grande parte de sua passagem pela cidade. Lá estão objetos pessoais, fotos e memorabilia do padre, e os visitantes podem adquirir livros sobre a história do sacerdote.
Já no Memorial Padre Cícero, está um acervo com mais de 2 mil peças que pertenceram ao religioso ou que se relacionam com a sua vida, como indumentárias, quadros, louças, fotografias e outros itens, grande parte exposta ao público. Há, ainda, uma biblioteca, um verdadeiro centro de documentação, com livros, jornais antigos, documentos e manuscritos que tratam da vida do padre.
Basílica e santuários
Primeiro templo religioso de Juazeiro do Norte, a Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores foi onde padre Cícero começou a compartilhar sua religiosidade com os moradores da cidade, na época ainda uma pequena capela. Padim Ciço então arregaçou as mangas e conseguiu transformá-la em uma igreja de grande porte. Paróquia Matriz da cidade, a basílica passou por algumas transformações em sua infraestrutura nas décadas seguintes e, ainda hoje, é uma grande atração histórica e religiosa da cidade.
Outro importante edifício religioso, projetado a partir de uma maquete levada de Roma pelo padre Cícero, o Santuário do Sagrado Coração de Jesus (ou Igreja dos Salesianos) começou a ser construído em 1949 – 15 anos após a sua morte – e foi inaugurado em 7 de maio de 1978. Em estilo barroco, o templo tem como peça mais icônica a imagem do Coração de Jesus que está no altar-mor, fabricada pelos salesianos de Gênova, na Itália.
Também parte do roteiro dos visitantes em romaria a Juazeiro do Norte, o Santuário de São Francisco das Chagas, conhecido como a Igreja dos Franciscanos, serve à população e turistas desde a década de 1950. Um dos maiores templos da ordem franciscana no país, o santuário tem algumas características peculiares, como o teto com citações de nomes de famílias que contribuíram de alguma maneira para a obra e uma enorme imagem de São Francisco esculpida na Itália, além da torre com 45 metros de altura que conserva belos relógios.
Cultura popular
A cultura cearense tem, na região do Cariri, um ambiente legítimo, uma vez que Juazeiro do Norte e Crato contam com diversos locais em que manifestações típicas culturais da região recebem o espaço merecido. Reisado, lapinha, maneiro-pau, bandas cabaçais, bumba meu boi e outras tantas manifestações que pluralizam as manifestações locais são guardadas por dezenas de grupos que se apresentam em festas e espaços culturais da região.
A literatura de cordel também é uma manifestação cultural e artística muito difundida pelo Cariri e tem, na Academia de Cordelistas de Juazeiro/Crato, fundada em 1991 por Elói Teles de Morais, um importante grupo de protetores deste antigo gênero de literatura popular. Os cordéis são comercializados em feiras populares e casas de cultura da região.
Na parte musical, o forró é o ritmo predominante na cidade, tendo no Juaforró seu principal evento. Previsto para acontecer na segunda metade de junho, o Juaforró é a festa junina de maior destaque do Cariri com a primeira edição ocorrida em 2000. O cenário é montado no Centro de Eventos Padre Cícero e tem como maior atrativo o festival de quadrilhas.
O espaço artístico mais importante de Juazeiro do Norte é o Centro de Cultura Popular Mestre Noza, uma das referência da produção de artesanato em todo o estado. Com mais de 100 artesãos de todo o Cariri e cerca de 50 mil peças expostas, em especial de símbolos nordestinos e imagens religiosas, o local foi criado em 1983 e seu nome é em homenagem ao falecido xilogravurista Inocêncio Medeiros da Costa, o Mestre Noza, muito conhecido por suas ilustrações em folheto de cordel. As visitas ao local acontecem de segunda a sábado, e a entrada é gratuita.
A cultura do Cariri também respira forte no Mercado Central de Juazeiro do Norte. Considerado o maior centro popular de compras da região, o mercado traz uma variedade de produtos, que vão desde artesanato para comprar lembrancinhas da cidade até bebidas e comidas típicas.
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