Sérvulo Esmeraldo (1929 – 2017) esbanjava um talento extraordinário — tudo o que o artista cearense tocava, tornava-se arte. Sem medo de explorar os materiais, o escultor, gravador, ilustrador e pintor é autor de uma gama de produções memoráveis, inclusive grandes obras ao ar livre; algumas expostas na capital do Ceará, Fortaleza.
Espalhadas pelas ruas da cidade e em lugares históricos, essas produções de Esmeraldo apresentam diferentes configurações e materiais: metal, fibra de vidro etc. Todas as obras expõem uma relação pessoal do artista com Fortaleza e uma visita a esses projetos é uma experiência cultural fantástica. Na capital do Ceará, encontra-se grande parte das intervenções em lugares como Beira Mar, Praia de Iracema, centro, entre outros espaços públicos e/ou integrados à arquitetura da cidade.
Quem foi Sérvulo Esmeraldo?
Nascido em Crato, no Ceará, em 1929, Sérvulo Esmeraldo é um artista nato, que começou a carreira artística com a xilogravura. Aos 18 anos, passou a fazer parte da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza, quando teve contato com grandes artistas: Inimá de Paula, Antonio Bandeira e Aldemir Martins. No mesmo período, teve aulas de pintura com Jean-Pierre Chabloz.
Em 1951, o artista elaborou uma montagem na 1.ª Bienal Internacional de São Paulo. Pouco depois, mudou-se para São Paulo, passando a ocupar a função de gravador e ilustrador no Correio Paulistano. Antes dos 30 anos, fundou o Museu de Gravura, em Crato, no Ceará.
Após uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), o artista ganhou uma bolsa do governo francês para estudar na Europa, especificamente em Paris, onde compreendeu melhor os detalhes da litografia na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes]. Nessa época, aprofundou-se nas obras raras da Bibliothèque Nationale de France, recebendo um estudo completo da gravura de Albrecht Dürer (1471-1528).
Os projetos em gravura de metal também começaram nesse momento da carreira do artista, época em que ele contou com orientação de Johnny Friedlaender. Em meados dos anos 1960, passou a integrar o movimento da arte cinética e fez uma das produções mais memoráveis da sua vida artística, as obras Excitáveis — quadros e objetos movidos pela eletricidade estática.
Depois de seus 25 anos em Paris, onde conquistou grandioso reconhecimento internacional, Sérvulo Esmeraldo voltou ao Brasil, estabelecendo-se em Fortaleza, local em que passou a se dedicar à arte pública e trabalhar com chapas de aço laqueado, produzindo esculturas com planos dobrados e pintados. Foi nessa época, também, que realizou a Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, e foi o curador nas edições de 1986 e 1991.
Esmeraldo, que morreu aos 87 anos em fevereiro de 2017, é um dos grandes artistas da história do Brasil, mas nem mesmo a produção cinética dele foi devidamente inserida na historiografia da arte brasileira, com as peças do autor passando despercebidas por muitas pessoas. Permanecendo muito desconhecida em solo nacional, a obra do artista não recebeu grande acolhimento no país.
Atualmente, a capital do Ceará abriga parte de suas intervenções ao ar livre, que evidenciam suas técnicas e a relação do artista com a cidade. O restauro e a manutenção das produções é de responsabilidade do Instituo Sérvulo Esmeraldo, presidido pela viúva do cearense, Dodora Guimarães. Um roteiro em Fortaleza precisa contar com passeios pelas obras de Esmeraldo, até para se aprofundar na extravagância e potência da arte brasileira.
Interceptor Oceânico
Uma das obras mais importantes, disposta no calçadão da avenida Beira Mar, o Interceptor Oceânico ou “Monumento ao Saneamento Básico da Cidade” já é parte de Fortaleza. Inaugurada em 1978, a produção surge como uma espécie de homenagem ao saneamento básico da cidade.
Repleta de debates, é uma das intervenções mais significativas da cidade, também pelo local onde fica exposta. A avenida Beira Mar carrega muitas histórias, como o caso de 1881, em que o líder jangadeiro Dragão do Mar (Francisco José do Nascimento) interceptou o tráfico negreiro na Praia de Iracema e declarou que escravos não desembarcariam mais naquela praia.
Monumento ao Jangadeiro
Escultura que faz homenagem aos jangadeiros, que lutavam por melhores condições de trabalho, o Monumento ao Jangadeiro também está exposto na Avenida Beira Mar. A obra foi encomendada pelo prefeito Juracy Magalhães em 1992.
Ballet Gráfico
Escultura-fonte cinética em aço inox, composta de três cones e medindo mais que 4 m de altura, o belíssimo Ballet Gráfico (2002) é parte da estrutura da Praça da Sé, no centro de Fortaleza.
Infinito
A peça “Infinito” (1983) é uma homenagem a Constantin Brâncusi, considerado o patriarca da escultura moderna. Escultura em aço pintado, a obra está exposta na Praça General Murilo Borges, no centro da cidade.
Quadrados
Os “Quadrados”, de 1981, são parte da coleção da Fundação Edson Queiroz e eternizam o legado cultural do artista no campus da Unifor, também no centro da cidade. Escultura em aço pintado, a obra relembra a paixão de Sérvulo Esmeraldo por geometria.
Pulsação
Escultura cinética, “Pulsação” foi criada em 1980 e restaurada em 2018. Composta por discos multicoloridos e motor de baixa rotação, tem cinco metros de altura e está instalada no Viaduto Reitor Antônio Martins Filho, no bairro Cocó.
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