Ousada, brilhante e audaciosa: Gal Costa marcou presença por onde passou. Uma das cantoras mais importantes da história da música brasileira, a artista morreu aos 77 anos em 9 de novembro de 2022. Costa estava em sua casa, na cidade de São Paulo, pouco depois de cancelar alguns shows, incluindo a apresentação no Primavera Sound Brasil 2022, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita. A causa da morte não foi divulgada.
Com uma carreira célebre, carregada de histórias, posicionamentos, hits e discos impecáveis, a artista é reconhecida mundialmente por seus vocais potentes e interpretações musicais de arrepiar. Eleita como a sétima maior voz da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, Gal Costa sempre foi destaque e referência por seu talento, com os críticos especializados elegendo-a como uma das cantoras mais versáteis da música contemporânea.
Ela vem da Bahia!
Sua história com a música começou cedo, quando Gal Costa (Maria da Graça Costa Penna Burgos) ainda era muito jovem. A cantora estreou ao lado de grandes nomes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tom Zé e outros, no espetáculo “Nós, Por Exemplo…” em 22 de agosto de 1964, evento que inaugurou o Teatro Vila Velha, em Salvador. Pouco depois, em 1965, deixou a capital baiana para morar no Rio de Janeiro.
Em terras cariocas e acompanhada de Veloso, Gil e Bethânia, começou a construir sua discografia, com sua performance no palco sempre apresentando uma nítida influência bossa-novista. Ainda na década de 1960, a sua carreira passou a ser desenhada (e reconhecida) com o lançamento do seu primeiro disco solo, intitulado “Gal Costa”, que tem hits como “Baby” e “Divino Maravilhoso”.
Importância da Tropicália
Gradualmente, sua influência foi crescendo, e a cantora foi conquistando uma legião de fãs e admiradores. Em 1971, lançou “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor”, um álbum ao vivo que compreendia a realização de uma turnê e a gravação de um LP com o registro do show. Historicamente, esse projeto artístico foi de extrema relevância para que os ideais estéticos propostos pelos tropicalistas continuassem firmes no mercado fonográfico brasileiro, visto que os principais nomes do movimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil, estavam exilados em Londres devido à Ditadura Militar.
Na década de 1970, Gal Costa foi fundamental para a força do Tropicalismo, principalmente por conta da sua importantíssima influência nas camadas sociais mais jovens. Para além de ser essencial para o público, em um depoimento concedido ao documentário “O nome dela é Gal” (Disponível na HBO), a cantora refletiu sobre a relevância do movimento para ela:
“O momento da Tropicália para mim – onde aconteceu toda essa coisa nova que foi chamada de Tropicália – foi muito importante, porque era um momento em que as coisas novas aconteciam em relação à música, em relação à linguagem, e eu estava envolvida com isso de uma forma ou de outra, por ser amiga de Caetano e de Gil, por gostar de música e por ter interesse numa carreira musical de cantora. Esse momento foi tão forte e tão impulsivo que me deu uma força interior”, disse na ocasião.
Ela também pontuou: “Então eu descobri muitas coisas novas nessa época, eu tô falando da Tropicália com relação ao meu trabalho, e na época teve também a coisa da Janis Joplin, quer dizer, tudo isso para mim me deu um pique muito forte para fazer uma coisa nova que começou com Divino Maravilhoso”. Lembrando que Gal Costa foi a única presença feminina que atuou no Tropicalismo desde seu início a até sua provável dissolução.
Também na década de 1970, com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, ela formou o grupo Doces Bárbaros para uma turnê em 1976, que tinha como objetivo comemorar uma década das carreiras solo dos quatro artistas. Foi um movimento extremamente importante para a contracultura, principalmente devido ao cenário de Ditadura Militar que o Brasil vivia naquele período.
Sem dúvidas, mesmo com a repressão em meio à Ditadura Militar, os anos 1970 foram importantíssimos para a carreira da cantora, que fez história ao lançar músicas de sucesso na época, como “Vapor Barato” e “Sua Estupidez”, além de “Índia”, do disco homônimo. Há, ainda, outras músicas consideradas obras-primas da carreira, como “A rã” (1974) e a reinterpretação de “Modinha para Gabriela”, de Dorival Caymmi, que virou um hit na voz de Gal Costa.
Um lado mais pop
Afastando-se do movimento tropicalista, Gal Costa começou a apostar em sons mais comerciais na virada da década de 1980, apresentando uma proposta mais pop. Assim como em grande parte da sua carreira, a época também foi marcada por uma série de hits, inclusive a reinterpretação de “Azul”, do Djavan, entre outras músicas, como “Chuva de Prata, “Eternamente”, etc.
Nos anos (e décadas) seguintes, continuou com a estética mais pop, mesclando o contemporâneo e o tradicional. Em 1997, gravou o disco do Acústico MTV que, além de revisitar alguns dos grandes hits da carreira, apresenta uma versão da cantora para a faixa “Lanterna dos Afogados”, que ela fez em parceria com o autor Herbert Vianna, vocalista do Paralamas do Sucesso.
Nos últimos 20 anos, foi reconhecida no Hall of Fame do Carnegie Hall, em Nova York, nos Estados Unidos, tornando-se a única cantora brasileira homenageada pela tradicional sala de espetáculos. Durante seu tempo de carreira, Gal lançou mais de 40 discos, incluindo os álbuns ao vivo.
Como a cantora sempre esteve muito ativa, continuou apresentando novas músicas e colaborações nos últimos anos, inclusive parcerias com grandes nomes da atualidade, como Céu, Criollo, Artur Nogueira, entre outros, para o álbum “Estratosférica”, gravado em 2015. Sua interpretação de “Quando Você Olha Pra Ela”, composição de Mallu Magalhães, foi um enorme sucesso.
Grandes hits da carreira
Como legado, Gal Costa deixa uma enorme lista de canções que se tornaram hits em sua belíssima e potente voz. Algumas das principais músicas da carreira e discografia da cantora são:
- “Baby” (1969)
- “Divino Maravilhoso” (1969)
- “Que Pena (Ele já Não Gosta Mais de Mim)” (1969)
- “London London” (1970)
- “Tigresa” (1977)
- “Meu Nome É Gal” (1979)
- “Vaca Profana” (1984)
- “Quando Você Olha Pra Ela” (2015)